No Brasil, que é um país tropical, com exceção da região sul, que tem invernos
rigorosos, o final de verão, para os pobres, sempre é motivo de alegria por
duas razões puramente climáticas:
I
_ fim das temidas tempestades de verão, que chegam acompanhadas de trovões, relâmpagos, raios e enchentes,
alagamentos, congestionamentos, quedas de barreiras nas rodovias, perdas na
agricultura e consequentemente,a alta de preços dos produtos hortifrutigranjeiros;
II
– Uma trégua dos pernilongos
tradicionais, velhos conhecidos dos brasileiros e também do estrangeiro Aedes
aegypti, que
chegou sem passaporte e vive
clandestinamente no país, reproduzindo
mais que os coelhos e causando prejuízos aos cofres públicos, porque inúmeras são
as vítimas que procuram o SUS,e muitas não conseguem sobreviver as inúmeros
doenças que o pequeno mosquito transmite. Deportá-lo é o desejo de todos, do indigente
ao Presidente da República porque o Aedes não tem preconceito algum, ele quer
apenas sugar o sangue; classe social,
idade, etnia, aparência física, não importa,
sentiu o cheiro de alimento ele ataca.
Rosalina vivia em uma casa
e travava uma luta diária e feroz contra o mosquito da dengue, executava todas
as orientações da vigilância sanitária,
receitas da internet, amigas, meios de comunicação de massa. Como dispunha
de um amplo quintal, plantou cravo
amarelo, citronela, alecrim, arruda, manjericão, plantas que segundo a sabedoria popular, afastam o mosquito, que não aprecia o cheiros destas ervas e flores. Fiscalizava todos os espaços da residência, com o rigor
de um sargento do Exército, em busca de água parada e não conseguia dar
fim nos intrusos e, mesmo com todo esse cuidado, ainda contraiu dengue duas vezes, chegando até a ficar
internada. Ficou feliz quando apareceu a oportunidade de morar em um apto, no
quarto andar, pensou que finalmente, estaria livre.
A primeira providência de
Rosalina foi pintar o apartamento todo de branco, trocar as lâmpadas pelas de LED,
colocar cortinas claras para não atrair invasores indesejados. Ela
pensou que finalmente, a mais de 12 metros do solo, as frágeis asas do mosquito não ousariam tanto, mas estava enganada, já na primeira
noite, teve que lutar contra
eles.
Rosalina observou que
pernilongos nacionais e estrangeiros estão cada dia mais resistentes as inseticidas
e panacéias caseiras, além de terem
desenvolvido estratégias eficazes de
combate, e infelizmente, sempre acabam vencendo. Houve um tempo em que apenas
acender a luz e ligar o ventilador
afastava os inconvenientes. Atualmente, pode-se perfumar os lençóis com
alfazema, passar pano na residência com chá de cravo da índia, queimar incenso
de citronela, colocar cloro nos ralos, usar repelente no corpo e o aparelho
repelente na tomada, 24 horas por dia, sete dias por semana, nada disto é capaz de afastar definitivamente os
invasores. Diante desta luta inglória, a única alternativa de pessoas pobres,
como Rosalina, que não têm condições
de instalar ar condicionado, porque gasta muita energia, é esperar pelo
frio do inverno, quando eles dão uma trégua para voltarem com força total na próxima
primavera. Andam tão abusados que sequer esperam o verão.
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