terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Pernilongos

                   
          No Brasil, que é um país tropical,  com exceção da região sul, que tem invernos rigorosos, o final de verão, para os pobres, sempre é motivo de alegria por duas razões puramente climáticas:
I _ fim das temidas tempestades de verão, que chegam acompanhadas de  trovões, relâmpagos, raios e enchentes, alagamentos, congestionamentos, quedas de barreiras nas rodovias, perdas na agricultura e consequentemente,a alta de preços dos produtos hortifrutigranjeiros;
II –  Uma trégua dos pernilongos tradicionais, velhos conhecidos dos brasileiros e  também do estrangeiro  Aedes aegypti, que  chegou sem  passaporte e vive clandestinamente no país,   reproduzindo mais que os coelhos e causando prejuízos aos cofres públicos, porque inúmeras são as vítimas que  procuram o SUS,e  muitas não conseguem sobreviver as inúmeros doenças que o pequeno mosquito transmite.  Deportá-lo é o desejo de todos, do indigente ao  Presidente da República porque  o Aedes não tem preconceito algum, ele quer apenas sugar o sangue;  classe social, idade, etnia, aparência física, não importa,  sentiu o cheiro de alimento ele ataca.
          Rosalina vivia em uma casa e travava uma luta diária e feroz contra o mosquito da dengue, executava todas as  orientações da vigilância sanitária, receitas da internet, amigas, meios de comunicação de massa. Como dispunha de  um amplo quintal, plantou cravo amarelo, citronela, alecrim, arruda, manjericão, plantas que  segundo a sabedoria popular,   afastam o mosquito, que não aprecia  o cheiros destas ervas e flores. Fiscalizava  todos os espaços da residência, com o rigor de um sargento do Exército, em busca de água parada e não conseguia dar fim  nos intrusos e,  mesmo com todo esse cuidado, ainda contraiu  dengue duas vezes, chegando até a ficar internada. Ficou feliz quando apareceu a oportunidade de morar em um apto, no quarto andar, pensou que finalmente, estaria livre.
          A primeira providência de Rosalina foi pintar o apartamento todo de branco, trocar as  lâmpadas pelas de  LED,  colocar cortinas claras para não atrair invasores indesejados. Ela pensou que finalmente, a mais de 12 metros  do solo, as frágeis asas do mosquito não  ousariam  tanto, mas estava enganada, já na primeira noite,  teve que lutar  contra  eles.
          Rosalina observou que pernilongos  nacionais e estrangeiros estão  cada dia mais resistentes as inseticidas e  panacéias caseiras, além de terem desenvolvido estratégias eficazes  de combate, e infelizmente, sempre acabam vencendo. Houve um tempo em que apenas acender a luz e ligar o  ventilador afastava os inconvenientes. Atualmente, pode-se perfumar os lençóis com alfazema, passar pano na residência com chá de cravo da índia, queimar incenso de citronela, colocar cloro nos ralos, usar repelente no corpo e o aparelho repelente na tomada, 24 horas por dia, sete dias por semana, nada  disto é capaz de afastar definitivamente os invasores. Diante desta luta inglória, a única alternativa de pessoas pobres, como  Rosalina, que não têm condições de  instalar ar condicionado,  porque gasta muita energia, é esperar pelo frio do inverno, quando eles dão uma trégua para voltarem com força total na próxima primavera. Andam tão abusados que sequer esperam o verão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário