Espero ansiosamente pelo
dia 16 de janeiro de 2025, porque
finalmente, nesta data, serei uma sexagenária saudável, lúcida e feliz. Enquanto grande parte do mulherio diminui os janeiros e sentem-se ofendidas, quando
lhes perguntam a idade, em minha
tradição, tanto a ala feminina quanto a masculina sentem orgulho e gratidão por
permanecerem na terra por um longo período, e segundo a nossa fé, nossa única experiência terrena,
depois a eternidade ao lado do Pai
Eterno!
Tenho orgulho dos meus
antepassados centenários, sendo minha avó paterna a recordista: 104 anos! Acredito
que os sabores da infância são um dos
segredos da longevidade dos privilegiados que nasceram, como eu, até
a década de 1960. A nova geração a
partir dos anos 80, como diria minha
bisavó, “outros tempos, outros hábitos
alimentares e, consequentemente, outra
expectativa de vida." Vale ressaltar que em minha família, no quesito
alimentação, criança não opinava. Os pais decidiam o que comer, a quantidade e em horários estabelecidos por eles, rotina que
seguiam rigorosamente. As guloseimas ficavam a cargo dos avós, padrinhos e tios
e isto era raro, porque privilegiavam
presentear os pequenos com frutas, quitandas e doces feitos com rapadura. Aos
leitores modernos, pode parecer que as crianças eram infelizes e que sofriam de uma vontade constante de experimentar novos sabores oriundos da
indústria alimentícia. Sinto decepcioná-los! Isto não é verdade, porque ninguém
sente falta daquilo que não conhece e que nunca teve. É sabido por todos que o
valor às coisas é dado pela família e,
como nasci em zona rural, sem televisão
que estimulasse o consumo de produtos industrializados, aprendi desde cedo
a valorizar os frutos do cerrado, da
horta e do pomar. Quando uma criança expressava o desejo de comer uma fruta, uma verdura ou legume que eles não produziam, os pais não mediam
esforços para satisfazer o desejo do rebento, como aconteceu comigo. Certa vez,
mamãe contratou uma lavadeira que
apreciava pepinos e tanto falou neles, que eu, uma criança com seis ou sete anos, comecei a imaginar qual seria o gosto! Forte
como o araticum e pequi ou suave como a jabuticaba? E uma vontade sem limites
de experimentar apossou-se de mim. Pedi ao papai que, quando fosse à cidade,
comprasse um para mim. Ele não pode atender-me de imediato porque naquela
época, em Biquinhas, MG, a cidade mais próxima, não tinha supermercado, apenas
pequenos comércios denominados de Venda, Armazém e não havia variedade. Após a explanação
paterna, aceitei e esqueci o desejo,
porém, ele não e, um dia, meu tio Tito,
do costado paterno chegou à nossa casa
com uma surpresa para mim: Pepinos!
A vontade supostamente esquecida aflorou e com ela a decepção!
Eu não gostei do sabor, agradeci
muito, dividi com todos para que também apreciassem a novidade e comi o restante por gratidão ao esforço
familiar. Atualmente pesa sobre meus
ombros a responsabilidade das compras e da cozinha, consumo-o em virtude de seu valor nutricional. Nada
mais!
No interior de Minas Gerais, até os
meados do século XX, era comum aos homens
de minha família, ao construir a
sua casa para contraírem matrimônio,
plantar árvores frutíferas próximo à
sede e, com a chegada da esposa, esta se
responsabilizava pelo cultivo da horta, do jardim e das tarefas relacionadas ao galinheiro, o
que garantia ovos frescos, a tradicional sopa de galinha às parturientes
e, claro, o frango caipira ensopado com quiabo, aos domingos, iguaria que mineiro do sertão não recusa nunca. As
bênçãos de Deus em forma de filhos, quando chegavam aos braços dos pais, já
tinham garantido uma boa alimentação orgânica,
isto sem falar no cuidado que as
mulheres mais velhas dispensavam às jovens mães e seus pimpolhos. São doces as
lembranças que tenho de minha avó paterna, muito do meu equilíbrio emocional,
devo a ela. Morávamos perto, segundo padrão de distância do mineiro residente em zona rural, “logo ali”, mas para os citadinos,
principalmente de outros estados, o conceito de distância é outro. Assim, nos
víamos sempre, no mínimo duas vezes ao mês e em períodos de gravidez da mamãe, ela permanecia dois
meses em casa, um antes do parto e outro depois, dispensando muita atenção à criança
recém-nascida, sem descuidar da nora, do filho e das irmãs mais velhas. Brincávamos,
e como brincávamos! Além dos talentos
de vovó, era exímia cozinheira. Não há
como esquecer o seu delicioso frango com
ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata, planta originária do continente americano e bastante utilizada na gastronomia mineira)
Mamãe gostava de cozinhar e cuidava
com esmero da horta e com esforço e
dedicação garantia à sua prole numerosa de sete filhos, uma alimentação
saudável e variada. Quiabo, couve,
repolho, alface, tomate, abóbora, tomate, almeirão, açafrão da terra, inhame, cará, cenoura e jiló eram plantados anualmente, às vezes,
introduzia-se umas novidades. Quanto ao
formato dos canteiros, o cheiro da
terra molhada ao entardecer, não tenho
grandes lembranças, pelo que recordo,
desde a mais tenra idade eu era proibida de
adentrar naquele recinto, porque tinha um comportamento parecido com o
da formiga saúva cortadeira. Não conseguia resistir aos brotos e devorava-os lá
mesmo, sem a menor preocupação com higiene, principalmente os jovens quiabos, folhas de alho, cebola,
couve e hortelã.
Para dar sabor aos alimentos, nada
de produtos desidratados, tudo fresco,
direto da plantação, Havia abundância de alecrim, cebolinha, salsinha, manjericão,
alho, cebola de cabeça, erva-doce
hortelã e pimenta. Acredito que o interesse que tenho por temperos,
é influência materna. Sou uma pessoa
criativa na cozinha, e vivo
experimentando as novidades que encontro
em feiras livres e mercados; quando convido alguém para um jantar,
normalmente, apresentam uma
contraproposta: “um restaurante”. Embora
decepcionada por perder um
provador, sempre aceito, com receio de
perder a amizade; diante deste fato, não tenho como negar que alguns
experimentos costumam dar errado, razão pela qual minha cozinha não sofre com
aglomeração de pessoas.
Em virtude de suas características
geográficas, Minas Gerais, recebeu
diferentes povos necessários para o trabalho na mineração, pecuária
leiteira, nos cafezais e assimilou
um pouco de cada cultura. Um dos pratos típicos do estado, frango com quiabo e angu é
um ótimo exemplo destas influências. O
quiabeiro não é uma planta nativa do Brasil e já era cultivada
no Egito, nas várzeas do rio Nilo, há pelo menos doze séculos a.C. e há
relatos que afirmam que a sua
introdução no país ocorreu com o
comércio de escravos no ano de 1658. O ingrediente principal da receita, o frango, também é estrangeiro, navegando na internet, encontra-se vários
textos que afirmam ser ele asiático e cá
aportou com a Esquadra de Cabral, fato ensinado a todos as crianças
tão logo ingressam na escola, com base na Carta de Pero Vaz de Caminha dirigida
ao rei de Portugal, Dom Manuel o Venturoso, a qual relata que os
povos nativos, se assustaram quando lhes foi apresentado a galinha doméstica. O
angu é feito com fubá de milho,
cereal originário das Américas e há várias lendas na cosmologia indígena brasileira que explica a sua origem, entre
elas, destaco a comovente história do
povo guarani, que mostra o amor e abnegação de dois jovens dispostos a se
sacrificarem para o bem comum da tribo.
Conta-se que há muito tempo houve uma
grande seca, às águas dos rios
baixavam em uma velocidade nunca vista antes, as árvores não produziam mais
frutos e a caça escasseava. Após dias nos
recônditos da floresta, os caçadores
retornavam fracos, abatidos e com
as mãos vazias e todos padeciam com a fome. Uma tarde, dois valentes guerreiros, já desanimados
decidiram voltar à tribo e, no caminho, encontraram Nhandeiara, O Grande Espírito
e este, com a sua infinita sabedoria disse que se eles almejavam abundância de alimentos
para todas as aldeias, era necessário
que eles lutassem até um tombar sobre a terra sagrada. O vencedor deveria enterrá-lo no
local de sua queda. Assim foi
feito e Avati caiu sem vida. No local onde foi sepultado, nasceu uma
planta, que recebeu o nome Avati, (
milho no idioma português), em homenagem
ao corajoso jovem que deu a sua vida
para salvar a de seu povo. Não há como negar que esta deliciosa iguaria
mineira - frango com quiabo e angu -
é resultante da contribuição de três grandes etnias, portanto, um prato
especial que vai além do sabor dos ingredientes: é amor, tradição,
diversidade! É Minas Gerais!
A minha presença não era bem vista na
horta e muito menos na cozinha, em
virtude do meu abominável hábito de
querer provar tudo a todo instante, assim, não aprendi a cozinhar
divinamente bem como a mamãe (In memoriam) cujo frango com quiabo e angu era indescritível.
Sua habilidade culinária não se resumia
às refeições principais, suas quitandas (em Minas Gerais ,
refere-se ao conjunto de bolos, doces e biscoitos feitos em casa) eram verdadeiros manjares dos deuses. Destaco
o biscoito de queijo, uma tradição de
minha cidade, iguaria também resultante do encontro de culturas: Seus ingredientes base são:
polvilho, banha de porco, queijo,ovo, os mesmos do tradicional pão de queijo
mineiro, porém, o preparo é
diferente. Banha suína, queijo e ovos de
galinha, foram introduzidos pelos
portugueses e o polvilho, um produto da mandioca é uma herança indígena,
e há uma emocionante lenda que narra a sua origem. Resumidamente, relato-a: Maní era uma linda
criança amada por toda a tribo que faleceu durante o sono. A mãe enterrou- a
na oca e durante dias chorou sobre a sepultura; suas lágrimas regavam a
terra e após alguns dias, nasceu uma saborosa raiz que tornou alimento básico dos nativos e da nova nação que se formou após a
chegada da Esquadra de Pedro Álvares
Cabral. Seu sabor peculiar é impregnado do legado familiar de várias gerações
indígenas e das peculiaridades de sua
cosmologia!
Quando
eu nasci, as plantas do pomar já produziam e tenho agradáveis lembranças das
tardes quentes em que toda a família se reunia
à sombra da laranjeira ou mangueira e saboreávamos as frutas da época. É
viva a imagem de todos sentados em
círculo e papai descascando e
cortando o abacaxi em fatias e com
um olhar carinhoso, entregava a cada filha o seu pedaço, somente depois,
ele e a mamãe comiam. O mesmo ritual se repetia com a melancia. Para
mim, estas frutas estão associadas a afeto, e
consumi-las sozinha seguindo as
regras de etiqueta à mesa é um sacrifício que evito ao máximo. Ás vezes, quando
recebo crianças em casa, em meu pequeno apartamento, faço questão de cortar uma melancia para ser degustada sem cerimônia, na
tentativa de reviver os ternos
momentos do passado. O abacaxizeiro é
nativo das Américas e se aprende na escola
que a sua disseminação pelo mundo deve-se a Cristóvão Colombo,
que provou-o em 04
de novembro de 1493 quando desembarcou na Ilha de Guadalupe. A jabuticabeira é
nativa do Brasil e até o século XIX era
abundante nos pomares das grandes
fazendas, nos quintais das residências
urbanas e eu não sei a razão pela qual o papai não plantou uma muda sequer. Meu contanto com a
fruta, ocorria anualmente, na época da
safra, nunca soube a procedência,
tenho a lembrança das orientações maternas
de como consumi –las e da farra da criançada em volta da peneira, onde eram colocadas após
serem lavadas. A fruta colhida
diretamente da planta é bem mais saborosa e, algumas cidades mineiras,
entre elas Sabará, alugam suas jabuticabeiras aos turistas, pessoas que
não dispõem de espaço para
cultiva-las e almejam usufruir deste prazer. É uma experiência impar!
São
seis os grandes biomas brasileiros e eu fui abençoada por Deus por ter nascido
no cerrado cuja característica é a presença de
árvores de pequeno porte com
casca dura e grossa, galhos tortuosos
e raízes profundas necessárias à
busca de água em tempos de
estiagem. É considerado a caixa d’água
do Brasil, o berço das águas, já que abriga várias nascentes que beneficiam
grandes bacias hidrográficas entre elas a do
São Francisco, chamado
carinhosamente de “O Velho Chico”, o rio da integração nacional. Além da
riqueza hídrica e da fauna, há uma gama de frutos, que infelizmente a
indústria alimentícia brasileira não faz uso em grande escala, ficando esta
riqueza praticamente reduzida as comunidades tradicionais. Graças ao meu pai,
pude apreciar as peculiaridades dos sabores do cerrado e citarei apenas os
que infelizmente, hoje, não estão em minha mesa. O araticunzeiro é uma
árvore frutífera que varia entre quatro
a oito metros de altura, sua floração ocorre entre os meses de setembro a novembro, e os
besouros são os seus principais polinizadores.
O araticum exala um aroma característico
que indica a certa distância onde encontra-lo, já que são colhidos no
chão de novembro a março pelos fiéis
consumidores sazonais, que esperam pacientemente por longos meses para degustar sua polpa macia e cheia de sementes.
É um fruto cativante! Segura-los nas
mãos, sentir a textura de sua casca grossa,
seu cheiro, abri-lo e compartilha-lo com os familiares é uma
experiência indescritível. É
consumida in natura, sua polpa é usada também em sorvetes, bolos e demais quitandas
características do interior mineiro, porém, raramente é comercializado em
supermercados e feiras livres nas cidades, às vezes é vendido em barracas à beira das estradas. É
uma pena que ele não recebe atenção devida dos profissionais de nutrição e autoridades governamentais porque é rico
em vitaminas do complexo B. O pequizeiro! Seu fruto desperta dois fortes sentimentos: amor ou ódio. Não há
meio termo. Não existe o grupo do vou
provar para conhecer, ou o dos eu como de tudo que faz bem á saúde.
Assim que alguém vai adentrando com a
sacola carregada de pequi, que
foram cuidadosamente colhidos à sombra
de uma frondosa árvore, acontece duas maratonas domésticas: a turma
do ódio, que não suporta sequer o cheiro forte e marcante da fruta se afastam o máximo possível da cozinha e a
dos fiéis e eternos apaixonados, como eu, que não esperava o sinal da
largada para correr para a cozinha e
iniciar o mais rápido possível o preparo de qualquer prato que ele seja o ingrediente
principal, como arroz com pequi,
frango com pequi, pequi refogado com
bastante cebola, estas são as minhas receitas preferidas.
Comer
pequi é uma arte! Os turistas, da turma
do amor à primeira vista, devem ser orientados antes, porque o seu consumo deve
ser cauteloso em virtude dos inúmeros e minúsculos espinhos que protegem a
castanha e ficam debaixo da polpa, que jamais pode ser mordida e sim, roída delicadamente, caso contrário,
será necessário uma pinça, aquela usada
pelas mulheres para arrancar os pelos das sobrancelha, para retirar
cuidadosamente os espinhos da língua do incauto, porém, o sofrimento momentâneo não impede o desavisado de continuar a desfrutar do
sabor peculiar do ouro de
cerrado, como é chamado popularmente.
“Roer o caroço, morder jamais” é a regra básica que os apaixonados
não podem esquecer. Eu não conheço a reserva indígena Parque do Xingu,
porém, aprendi na escola que
lá, as sementes de pequi são
plantadas sempre que nasce uma criança
e é de responsabilidade paterna, fazer a semeadura e
garantir o alimento futuro do filho.
O
jatobá do cerrado produz um fruto com uma
casca bem dura, sendo necessário
um esforço para quebra-la, mas vale a pena porque dentro estão as
sementes e uma polpa farinácea deliciosa
e que gruda nos dentes. É consumida in natura
e também utilizada no preparo de
bolo, mingau, pão e outros. A floração acontece nos meses de dezembro a
fevereiro e acredite os morcegos são os seus principais polinizadores. Não sei
a razão pela qual a mamãe não fazia uso culinário desta fruta, porém,
nunca nos impediu de consumi-la, o que adorávamos fazer em baixo da árvore,
sentindo o vento, ouvindo o farfalhar das
folhas e o canto dos pássaros. É
uma planta medicinal, segundo a tradição popular. Reza uma velha lenda que o
consumo ajudar a clarear a mente e
purificar o espírito, porém, com
moderação, já que os efeitos colaterais são implacáveis, o excesso pode deixar
a pessoa atordoada. Eu nunca arrisquei,
sempre segui rigorosamente a
orientação dos mais velhos: “ coma pouco para comer sempre.” A resina, casca e semente são utilizadas em
forma de chá para combater várias doenças.
Temperos! São eles que dão sabor a comida e
caracterizam a cozinheira e saber harmoniza-los é uma arte. Sinto tanta saudade
do frango caipira que a mamãe preparava
ao domingos, temperando apenas com alho, cebola, cheiro verde e pimenta.
Do pernil suíno assado com alecrim em dias festivos com a presença dos avós, tios e primos. Da macarronada com manjericão e queijo ralado
quando estava apressada e não tinha
tempo para pratos mais elaborados. Vale
ressaltar, que a filha que ia a horta em
busca de temperos frescos não era eu. Em conseqüência desta
regra, tenho um sonho acalentado há anos de morar em uma casa com quintal
onde eu possa plantar e
colher. A mais doce lembrança que tenho
das iguarias do lanche da tarde é do bolo
de fubá com erva-doce, sabor e textura igual , jamais encontrei em padarias,
mercados e feiras.
Sinto
saudades de minha infância, em um sítio conhecido pelo nome de Saracura, às
margens da represa de Três Marias.
Desde a mais tenra idade, ajudava
na lida diária, em tarefas compatíveis com a idade. Sou profundamente grata aos meus pais
por terem me proporcionaram uma
infância sem grandes sofrimentos, medos e perdas. Tenho recordações
deliciosas dos momentos em que a família
se reunia à mesa das refeições ou em círculos, à sombra das árvores frutíferas
e de papai carinhosamente dividindo os
frutos com a sua prole numerosa. Com a distância dos anos, percebo claramente
que eu mais apreciava não era o abacaxi ou a melancia, mas a
presença, o carinho e o cuidado
com que eles nos alimentavam. Hoje,
estas frutas são as minhas preferidas
porque chegam a mim impregnadas de afeto
familiar, e não há como evitar
que lágrimas saudosistas brotem em meus
olhos cansados quando estou diante delas. Talvez eu seja uma das poucas
mulheres que não reclama de descascar
abacaxi. Como poderia eu queixar-me se ao tocá-lo, afloram as mais suaves memórias dos
anos mais felizes de minha vida?
A vida na zona rural, sem as tecnologias de hoje
era dura, e após um dia exaustivo de trabalho a sol a pino, quantas vezes vi
papai chegar cansado, mas com um sorriso nos lábios e frutas nas mãos de acordo com a época, porque
a natureza bruta tem ciclo próprio e o
homem do campo espera com paciência, quando generosamente ela fornece o
alimento. Com as crianças à sua
volta, fazia a partilha e quando era
araticum, eu sempre queria mais e mais. Estas recordações me perseguem até
hoje porque estão impregnadas de amor, afeto e cuidado.
São os aromas e sabores de minha terra natal, enraizados em meu
coração, que fornecem a coragem e a força necessária para eu continuar trilhando o caminho que escolhi
distante dos meus, e quando a saudade
bate forte dentro do peito,
invariavelmente vou à cozinha preparar
uma receita da família e reviver as
carinhosas refeições que encantaram
a minha infância. Sou profundamente
grata aos meus pais por ter tido o
privilégio de nascer deles, por terem me
proporcionado uma alimentação orgânica, saudável e deliciosa, como diria a mamãe, “a base para chegar ao cem anos de
idade saudável, lúcida e feliz.”
Chegarei lá com a benção deles!
A maior lembrança que tenho de infância é de leite com toddy
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