segunda-feira, 17 de junho de 2019

Marina



          Fiquei feliz ao receber a  sua missiva! Foi um alento, uma massagem no ego, saber que  nos treze anos em que  trabalhamos juntas, deixei saudades e que pude ajudá-la a  enriquecer as suas atividades diárias e que as nossas conversas,  segundo a sua percepção, eram úteis e agradáveis. Eu também sinto saudades deste tempo, que apesar das dificuldades, eu tinha  com quem falar sobre a importância da arte na vida das pessoas, sejam como produtores ou consumidores.  Não a como negar que a  beleza é o bálsamo da alma!
          Estou radiante porque após trinta e sete anos de trabalho consegui, enfim, comprar   o meu apto. É pequeno, em um prédio   relativamente novo, mas não  possui elevador e tenho que subir cinquenta e seis degraus  e com este exercício físico diário e obrigatório, perdi  onze quilos e estou feliz  com esta agradável perda. Minha relação com o lar mudou muito, já não tenho preguiça de executar as tarefas domésticas, pelo contrário, faço-as com prazer e gratidão porque finalmente sou proprietária!
          Quando nos despedimos, eu tinha por objetivo voltar a trabalhar e cursar uma nova graduação: Pedagogia Empresarial, porém, a  minha vida seguiu outro caminho, estou fazendo dança de salão, cigana e um curso de Justiça Restaurativa e não sei aonde esta nova trilha me levará; sem ansiedade e serena, estou deixando o rio seguir o seu curso naturalmente, enquanto  uma nova oportunidade de trabalho não aparece, aproveito o que a cidade oferece, a preços populares porque vida de aposentada brasileira é sinônimo de economia forçada  até o último suspiro.
          Como é junho, o mês das tradicionais festas juninas,  estou aproveitando as quermesses sem a menor culpa porque quem sobe cinqüenta e seis degraus diariamente e ainda anda no mínimo, três quilômetros diariamente porque aqui tudo é distante,  não tem porque se preocupar com umas calorias a mais. Estou ansiosa pela festa do padroeiro, já busquei informações e serão três dias de festa com representações teatrais, a tradicional quadrilha, fogos, missas campais, e claro, muita comida típica e quem sabe, eu tenha a sorte  de encontrar um paquera porque está difícil, o déficit de  homens na cidade é de apenas mil. Faz tempo que procuro  uma companhia agradável para sair, conversar e aproveitar o pouco tempo que ainda nos resta de vida.
          Como sempre digo, o ser humano vive de esperança, primeiro de entrar no mercado de trabalho  e encontrar o amor de sua vida. Depois manter-se no emprego e  no relacionamento e na sequência, esperar a aposentadoria e quanto finalmente esta chega, uma nova espera: quem não conseguiu manter o parceiro, encontrar outro e uma nova ocupação para preencher o vazio deixado pelo trabalho e quem sabe, na festa do padroeiro eu tenha sorte e  encontre um companheiro para  que juntos, possamos esperar a nossa hora com serenidade.


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