Contar histórias para as crianças é uma atividade saudável,
quase terapêutica quando estas histórias
contem sentimentos profundamente humanos, como
o conto de fadas “ Cinderela” que traz em si a
perda da mãe, a difícil relação com a madrasta e suas filhas e a certeza de que
o sofrimento não é perene, sempre há possibilidade de mudar, por mais inverossímil
que possa parecer. Quanto aos adultos, tradicionalmente, não se contam histórias,
mas casos, discorrem sobre a vida alheia, especulam, e, algumas pessoas
apreciam a leitura como lazer, e há
aqueles que fazem dela uma terapia, já que não podem arcar com os custos das sessões de
biblioterapia.
Na falta do
profissional especializado para orientar a leitura de acordo com a dor do
paciente, a única alternativa é procurar autores de romances, cujos personagem são dotados de sentimentos
profundamente humanos, muitas vezes,
condenados pela religião, como Miguilim, personagem de João Guimarães
Rosa, menino de muita fé em Deus, dado a
orações e promessas, e um dia, em meio a uma grande sofrimento emocional, jurou matar o próprio pai. “Não matar” é um
dos mandamentos da Lei de Deus. “Honrar pai e mãe” é outro e com toda a sua religiosidade e temor à
Deus, ele esqueceu dos ensinamentos da
Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana e jurou que um dia daria fim a
vida de seu progentor.
O patricídio é um dos piores crimes perante as Leis de Deus
e dos homens. Miguilim pensou em cometer essa atrocidade e, quantas outras
pessoas também em virtude da incapacidade de dialogar e procurar resolver as
desavenças pacificamente, apelam para o crime
e destroem famílias. O conflito interior do personagem, pode ajudar o
leitor a visualizar outros horizontes e outras vias para transpor os obstáculos de sua
jornada.
Quando os
sentimentos condenados pela igreja e
sociedade afloram no coração das pessoas, a leitura funciona como uma catarse,
riem, choram, questionam, revoltam-se e, suavemente vão dando vazão as dores da
alma, aquelas que não podem ser
compartilhadas com ninguém em virtude dos
julgamentos e dos conflitos que podem gerar. Assim, a escolha de um bom
livro, é a melhor solução. Leiam! Leiam
sempre, por prazer, por terapia, pela cultura. Quantas pessoas já se
beneficiaram do drama de Miguilim?
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