domingo, 5 de março de 2017

Biblioterapia

                                 Contar histórias para as crianças é uma atividade saudável, quase terapêutica  quando estas histórias contem sentimentos profundamente humanos, como  o conto de fadas “ Cinderela” que traz em  si  a perda da mãe, a difícil relação com a madrasta e suas filhas e a certeza de que o sofrimento não é perene, sempre há possibilidade de mudar, por mais inverossímil que possa parecer. Quanto aos adultos, tradicionalmente, não se contam histórias, mas casos, discorrem sobre a vida alheia, especulam, e, algumas pessoas apreciam a leitura como  lazer, e há aqueles que fazem dela uma terapia, já que não  podem arcar com os custos das sessões de biblioterapia.
          Na falta do profissional especializado para orientar a leitura de acordo com a dor do paciente, a única alternativa é procurar autores de romances,  cujos personagem são dotados de sentimentos profundamente humanos, muitas vezes,  condenados pela religião, como Miguilim, personagem de João Guimarães Rosa,  menino de muita fé em Deus, dado a orações e promessas, e um dia, em meio a uma grande sofrimento emocional,  jurou matar o próprio pai. “Não matar” é um dos mandamentos da Lei de Deus. “Honrar pai e mãe” é outro  e com toda a sua religiosidade e temor à Deus, ele esqueceu dos  ensinamentos da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana e jurou que um dia daria fim a vida de seu progentor.
          O patricídio  é um dos piores crimes perante as Leis de Deus e dos homens. Miguilim pensou em cometer essa atrocidade e, quantas outras pessoas também em virtude da  incapacidade de dialogar e procurar resolver as desavenças pacificamente, apelam para o crime  e destroem famílias. O conflito interior do personagem, pode ajudar o leitor a visualizar outros horizontes e  outras vias para transpor os obstáculos de sua jornada.
          Quando os sentimentos  condenados pela igreja e sociedade afloram no coração das pessoas, a leitura funciona como uma catarse, riem, choram, questionam,  revoltam-se  e, suavemente vão dando vazão as dores da alma, aquelas que  não podem ser compartilhadas com ninguém em virtude dos  julgamentos e dos conflitos que podem gerar. Assim, a escolha de um bom livro, é a melhor solução. Leiam!  Leiam sempre, por prazer, por terapia, pela cultura. Quantas pessoas já se beneficiaram  do drama de Miguilim?  

Nenhum comentário:

Postar um comentário