Se ainda estivesse caminhando sob o céu largo e azul da terra que tanto
amou, guiando com a calma de quem entende os ritmos da natureza o seu rebanho
de gado Gir, ele completaria, neste 6 de janeiro de 2025, noventa anos de vida.
Foram sessenta e cinco desses anos mergulhados no labor silencioso e constante
com o gado leiteiro, onde cada amanhecer trazia a promessa de um novo dia de
trabalho e cada entardecer carregava o peso doce do dever cumprido.
Lá, no pedaço de chão que escolheu para plantar suas raízes, ele ergueu com
firmeza a bandeira do aprimoramento da raça. Do seu esforço, brotou mais do que
leite e carne: brotou sustento, brotou vida. Alimentou a própria família e, sem
saber, também colocou alimento na mesa de tantas outras, gente simples que
talvez nunca ouviu seu nome, mas se nutriu da dedicação silenciosa que ele
depositava em cada jornada.
Benditos sejam esses bovinos de olhar sereno e passos lentos, que oferecem
ao homem tudo o que têm. Em vida, o leite que fortifica; depois, a carne que
sacia, o couro que protege, e até os pequenos detalhes que passam
despercebidos, mas que acompanham a vida: a bolsa que guarda segredos, o
calçado que conhece caminhos, o botão que prende e enfeita.
Benditos, também, sejam os criadores. Gente que, como ele, entrega a própria
existência à terra e aos animais, guardiões fiéis de um ciclo sagrado que une o
campo à mesa, a natureza ao lar. Homens e mulheres de mãos calejadas e corações
firmes, que continuam a mover o mundo em silêncios respeitosos e gestos
seguros.
E assim ele segue vivo. Nos cantos da memória de quem o conheceu, no leite
que escorre nas canecas, na carne que perfuma a cozinha, ele permanece. Como as
raízes de uma árvore que, mesmo invisível aos olhos, segue forte, sustentando o
solo, alimentando a vida.
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