sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Homenagem Pecuraista

 

Se ainda estivesse caminhando sob o céu largo e azul da terra que tanto amou, guiando com a calma de quem entende os ritmos da natureza o seu rebanho de gado Gir, ele completaria, neste 6 de janeiro de 2025, noventa anos de vida. Foram sessenta e cinco desses anos mergulhados no labor silencioso e constante com o gado leiteiro, onde cada amanhecer trazia a promessa de um novo dia de trabalho e cada entardecer carregava o peso doce do dever cumprido.

Lá, no pedaço de chão que escolheu para plantar suas raízes, ele ergueu com firmeza a bandeira do aprimoramento da raça. Do seu esforço, brotou mais do que leite e carne: brotou sustento, brotou vida. Alimentou a própria família e, sem saber, também colocou alimento na mesa de tantas outras, gente simples que talvez nunca ouviu seu nome, mas se nutriu da dedicação silenciosa que ele depositava em cada jornada.

Benditos sejam esses bovinos de olhar sereno e passos lentos, que oferecem ao homem tudo o que têm. Em vida, o leite que fortifica; depois, a carne que sacia, o couro que protege, e até os pequenos detalhes que passam despercebidos, mas que acompanham a vida: a bolsa que guarda segredos, o calçado que conhece caminhos, o botão que prende e enfeita.

Benditos, também, sejam os criadores. Gente que, como ele, entrega a própria existência à terra e aos animais, guardiões fiéis de um ciclo sagrado que une o campo à mesa, a natureza ao lar. Homens e mulheres de mãos calejadas e corações firmes, que continuam a mover o mundo em silêncios respeitosos e gestos seguros.

E assim ele segue vivo. Nos cantos da memória de quem o conheceu, no leite que escorre nas canecas, na carne que perfuma a cozinha, ele permanece. Como as raízes de uma árvore que, mesmo invisível aos olhos, segue forte, sustentando o solo, alimentando a vida.

 

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