— Olha, Mariana, não era nada complicado. Era só avisar a inquilina do segundo andar que a mangueira do ar-condicionado caiu. Tá pingando na marquise, pode estragar tudo! — disse Cláudia, com os braços cruzados.
Mariana suspirou, ajeitando os papéis sobre a mesa.
— Eu ia ligar, Cláudia, mas apareceu tanta coisa... E, sinceramente, isso não era prioridade.
— Prioridade? Mariana, você não fez nem o básico. Nem avisou a ex-companheira do teu pai que ela não pode mais receber os aluguéis. Isso era sua obrigação! — Cláudia elevou o tom, a impaciência crescendo.
Mariana rebateu, com a voz mansa, mas firme:
— Eu só acho injusto. Ela ficou com meu pai por anos. Você queria que eu simplesmente jogasse isso na cara dela?
Cláudia respirou fundo, conteve-se.
— Mariana, isso não é questão de justiça. É a lei. Esses bens foram adquiridos antes da tal união estável. Ela não tem direito.
Mariana desviou o olhar, mexendo distraidamente no celular.
— E quanto aos inquilinos com aluguéis atrasados? Também não era prioridade?
— Eu não gosto de cobranças. As pessoas estão passando por momentos difíceis.
Cláudia deu uma risada curta, sem humor.
— Difícil está sendo pra nós manter isso aqui funcionando! E ainda tem o advogado. Você fica discutindo com ele como se fosse especialista.
Mariana se levantou, irritada.
— Ele é lerdo! Não faz como eu peço!
— Ele faz como a lei manda, Mariana! Não como você quer.
O silêncio pairou por um instante. Mariana, cabisbaixa, murmurou:
— Eu não pedi pra cuidar disso tudo.
Cláudia suavizou o tom.
— Não pediu, mas aceitou. Então faz direito. Ou entrega pra quem sabe.
Mariana permaneceu quieta, olhando pela janela. A mangueira do ar-condicionado continuava pingando, lenta e constante, como um lembrete silencioso de tudo o que ainda precisava ser feito.
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