quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Herdeira de Palavras, Não de Ações


— Olha, Mariana, não era nada complicado. Era só avisar a inquilina do segundo andar que a mangueira do ar-condicionado caiu. Tá pingando na marquise, pode estragar tudo! — disse Cláudia, com os braços cruzados.

Mariana suspirou, ajeitando os papéis sobre a mesa.

— Eu ia ligar, Cláudia, mas apareceu tanta coisa... E, sinceramente, isso não era prioridade.

— Prioridade? Mariana, você não fez nem o básico. Nem avisou a ex-companheira do teu pai que ela não pode mais receber os aluguéis. Isso era sua obrigação! — Cláudia elevou o tom, a impaciência crescendo.

Mariana rebateu, com a voz mansa, mas firme:

— Eu só acho injusto. Ela ficou com meu pai por anos. Você queria que eu simplesmente jogasse isso na cara dela?

Cláudia respirou fundo, conteve-se.

— Mariana, isso não é questão de justiça. É a lei. Esses bens foram adquiridos antes da tal união estável. Ela não tem direito.

Mariana desviou o olhar, mexendo distraidamente no celular.

— E quanto aos inquilinos com aluguéis atrasados? Também não era prioridade?

— Eu não gosto de cobranças. As pessoas estão passando por momentos difíceis.

Cláudia deu uma risada curta, sem humor.

— Difícil está sendo pra nós manter isso aqui funcionando! E ainda tem o advogado. Você fica discutindo com ele como se fosse especialista.

Mariana se levantou, irritada.

— Ele é lerdo! Não faz como eu peço!

— Ele faz como a lei manda, Mariana! Não como você quer.

O silêncio pairou por um instante. Mariana, cabisbaixa, murmurou:

— Eu não pedi pra cuidar disso tudo.

Cláudia suavizou o tom.

— Não pediu, mas aceitou. Então faz direito. Ou entrega pra quem sabe.

Mariana permaneceu quieta, olhando pela janela. A mangueira do ar-condicionado continuava pingando, lenta e constante, como um lembrete silencioso de tudo o que ainda precisava ser feito.

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