Mais um Natal, e o vazio me fez sua confidente. Sentei-me diante de uma casa
arrumada, silenciosa como um templo esquecido. Pela janela, os enfeites
piscavam em fachadas alheias, mas aqui dentro, o brilho das luzes era apenas um
eco de tempos idos.
Esperei. Quem sabe um convite inesperado, um telefonema afetuoso ou mesmo
uma mensagem singela de um familiar, um amigo. O que chegou foi o silêncio.
Silêncio pesado, cruel, que sussurra em cada canto da casa, lembrando-me da
ausência de um mundo que seguiu adiante sem mim.
Sem outra opção, decidi almoçar fora, em busca de um simulacro de
celebração. Escolhi um restaurante modesto, onde o óleo das frituras parecia
compartilhar do meu esgotamento. As mesas à minha volta estavam cheias de risos
e brindes. Na minha, apenas a presença pesada da solidão, que me acompanhava
como uma velha companheira fiel. Nem a comida, áspera ao paladar, conseguiu
preencher o buraco no peito.
Voltei para casa. Ali, rodeada pelas paredes que guardam minhas memórias,
decidi limpar o chão. Em cada esfregada no piso, parecia que tentava lavar as
dores impregnadas na alma. Uma faxina útil, pensei, ao menos para esconder por
algumas horas a sujeira invisível do abandono. Ações mecânicas, como um rito de
exorcismo contra as sombras que me habitam.
Ao longo dos anos, corri atrás de amizades, investi em laços que sempre se
desfizeram com o tempo, como fios de uma trama que nunca se completava. Gente
vinha, gente ia, e eu ficava. Solidão, percebi, é o meu destino. Melhor
aceitá-la, pensei, como se aceita a própria pele: não há como fugir.
Porém, ao aceitar, o peso não diminui. É uma cruz que carrego, feita não de
madeira, mas de ausências, de momentos que nunca vieram, de vozes que nunca
chamaram meu nome. Mais um Natal se foi, deixando-me com a certeza de que
valorizo as pessoas mais do que elas a mim. E, quem sabe, esta seja a ironia de
viver: querer ser importante em um mundo que nos ensina, dia após dia, o peso
da nossa própria insignificância.
E assim, a vida segue, entre dias vazios e noites longas, com a esperança
cada vez mais tímida de que, talvez, um dia, o silêncio seja interrompido por
algo mais doce que a solidão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário