sábado, 28 de dezembro de 2024

Solitário Natal

 

Mais um Natal, e o vazio me fez sua confidente. Sentei-me diante de uma casa arrumada, silenciosa como um templo esquecido. Pela janela, os enfeites piscavam em fachadas alheias, mas aqui dentro, o brilho das luzes era apenas um eco de tempos idos.

Esperei. Quem sabe um convite inesperado, um telefonema afetuoso ou mesmo uma mensagem singela de um familiar, um amigo. O que chegou foi o silêncio. Silêncio pesado, cruel, que sussurra em cada canto da casa, lembrando-me da ausência de um mundo que seguiu adiante sem mim.

Sem outra opção, decidi almoçar fora, em busca de um simulacro de celebração. Escolhi um restaurante modesto, onde o óleo das frituras parecia compartilhar do meu esgotamento. As mesas à minha volta estavam cheias de risos e brindes. Na minha, apenas a presença pesada da solidão, que me acompanhava como uma velha companheira fiel. Nem a comida, áspera ao paladar, conseguiu preencher o buraco no peito.

Voltei para casa. Ali, rodeada pelas paredes que guardam minhas memórias, decidi limpar o chão. Em cada esfregada no piso, parecia que tentava lavar as dores impregnadas na alma. Uma faxina útil, pensei, ao menos para esconder por algumas horas a sujeira invisível do abandono. Ações mecânicas, como um rito de exorcismo contra as sombras que me habitam.

Ao longo dos anos, corri atrás de amizades, investi em laços que sempre se desfizeram com o tempo, como fios de uma trama que nunca se completava. Gente vinha, gente ia, e eu ficava. Solidão, percebi, é o meu destino. Melhor aceitá-la, pensei, como se aceita a própria pele: não há como fugir.

Porém, ao aceitar, o peso não diminui. É uma cruz que carrego, feita não de madeira, mas de ausências, de momentos que nunca vieram, de vozes que nunca chamaram meu nome. Mais um Natal se foi, deixando-me com a certeza de que valorizo as pessoas mais do que elas a mim. E, quem sabe, esta seja a ironia de viver: querer ser importante em um mundo que nos ensina, dia após dia, o peso da nossa própria insignificância.

E assim, a vida segue, entre dias vazios e noites longas, com a esperança cada vez mais tímida de que, talvez, um dia, o silêncio seja interrompido por algo mais doce que a solidão.

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