Era uma manhã comum, dessas que carregam no ar a promessa de mais uma
batalha cotidiana. Acordei cedo, como de costume, com a mente já tomada pelas
tarefas do dia. Entre um gole de café apressado e o barulho distante da rua,
lembrei da conta de luz vencida — um detalhe minúsculo que, naquele momento,
parecia uma montanha intransponível.
Resolvi pedir ajuda à minha irmã, aquela que, pelo menos teoricamente,
deveria ser um apoio nas horas difíceis. Expliquei a situação com a
simplicidade de quem espera um mínimo de solidariedade. Mas a resposta veio
seca, impiedosa: "Olha os recibos anteriores e vê se já completou o tempo
de vencimento. É de três em três meses, não é?"
Senti um nó na garganta. Não era apenas a conta de luz, era o peso de sempre
ter que resolver tudo sozinha. Trabalho fora o dia inteiro, corro de um lado
para outro tentando manter o equilíbrio frágil das minhas responsabilidades. E
ela... Ela não arruma a casa, não faz comida, toma café na padaria e almoça
fora. Vive dando ordens, como se a vida fosse um jogo onde só ela pode
descansar.
Revolvi gavetas, procurei recibos, remexi papéis antigos com mãos trêmulas e
coração pesado. Cada pedaço de papel encontrado era um lembrete de quantas
vezes me virei sozinha, mesmo tendo irmãos. A solidão, naquele momento, não era
apenas física, mas existencial. Ter uma família numerosa e, ainda assim,
sentir-se abandonada é uma dor que se instala como uma sombra persistente.
Engoli as lágrimas. Não há espaço para fraqueza quando a vida exige tanto.
Mas, no fundo, a ausência de pequenas ajudas dói mais que grandes tragédias. É
o silêncio das mãos que não se estendem, dos olhos que desviam, dos gestos que
nunca vêm.
Continuei meu dia, com a conta de luz resolvida e o coração mais uma vez
remendado. A esperança, teimosa, ainda sussurra que talvez um dia essa
distância se desfaça. Mas até lá, sigo, forte e só, como quem carrega o mundo
nos ombros sem jamais soltar uma queixa audível.
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