quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Perdão Celita

               

        Hoje, dia 04 de janeiro de 2023,  Celita está mais viva do que nunca em meu coração, corroído pelo remorso de como eu lhe virei as costas, sim, virei as costas, à pessoa que me ajudou de forma totalmente desinteressada. Ela é eterna   para muitas pessoas graças a sua generosidade, a todos  que dela necessitavam, acolhia-os em sua casa, sem nada cobrar, e hoje, soube que foi internada em uma Vila de Caridade São Vicente de Paula,  pela sua  ingrata irmã, sim, como eu, uma ingrata, porque nós duas fomos acolhida por ela, em nossas necessidades e lhes viramos as costas, agora que está inválida, em cima de uma cama, quase como um vegetal, incapaz de  locomover, ela que corria para ajudar a todos.

        O  inferno é aqui e o inferno tem um nome “remorso” e, por mais que eu seja solidária com estranhos, que estendo a mão sem  esperar recompensa,  estas ações não esvaziam o meu coração do remorso que sinto por ter agido de forma tão infantil e covarde, abandonando a casa dela, na calada da noite, sem dar uma satisfação.  A vergonha que sinto é tão grande, que nem mesmo, sabendo que ela está com Alzheimer,  que não me reconhecerá, não sou capaz de ir visitá-la para lhe pedir perdão  e também para que ela se sinta amada e que toda  a sua generosidade tenha sido   reconhecida.

        Segundo a tradição mitológica grega, em  toda a jornada, o herói encontra o desconhecido enquanto os deus vão sussurrando em seu ouvido  que o maior desconhecido a ser desvendado  mora dentro de nós e esta  é a viagem mais importante e que necessita de muita coragem. Aceito que não sou uma heroína porque não consigo empreender a jornada, dentro de mim, em busca de coragem e gratidão. Celita, peço o seu perdão, porque eu não sou capaz de me perdoar pelo que lhe fiz.

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