Era uma vez, não pense que um conto de fadas, é uma
história triste e aconteceu faz pouco, não
muito distante daqui. É a história de
uma menina que tinha uma mãe infeliz. Ela gritava, ofendia verbalmente e as
tarefas mais pesadas da casa, a ela eram
destinadas, desde a alvorada dos pássaros até o pio das corujas
noturnas, ela ficava na lida, sob o olhar vigilante e severo de sua genitora. Elas
moravam às margens da represa de Três Marias, de águas límpidas e prateadas. Uma
noite, após um exaustivo dia trabalho, a garotinha não conseguia dormir por causa do calor e do zumbido dos
pernilongos, então, ela levantou, olhou para a janela e viu a lua refletida nas
águas da represa, levantou os olhos para o céu e viu a lua cheia e teve a impressão de ouvir a voz dela a lhe dizer baixinho: Não fique triste, um dia
você vai conseguir partir para longe e
viver uma outra vida, bem mais divertida,
mas para que isso aconteça, você precisa trabalhar muito e economizar ainda mais.-
Economizar como? Se eu não lido com dinheiro, tudo que visto são as roupas de
minhas irmãs mais velhas? Somente trabalho, levo broncas e palmadas
injustamente. E a lua respondeu: A partir de amanhã, você proporá à sua mãe que
lhe irá trabalhar com muita dedicação e cuidará com mais empenho ainda do
galinheiro, e que os ovos não consumidos irá vendê-los e guardar o dinheiro
para a sua velhice. Não comente os seus planos de partir, pois será motivo de
chacota, não compre nada para você, preste atenção nas notícias do rádio, para
que conheça um pouco do mundo lá fora, também não fale sobre o seu dinheiro. Agora vai, retorne
ao seu leito e durma tranqüila.
Ao cantar do galo, a garotinha acordou, espreguiçou
um pouco e pensou em sua conversa com a lua. Será que tinha sonhado? Nunca
ouvira alguém dizer que lua falasse! Ela
pensou em sua rotina diária, ouvindo sua
mãe reclamar de tudo e principalmente
dela, por mais que se esforçasse, nunca conseguia agradá-la e este era o seu
maior desejo: aconchegar-se nos braços macios de sua mãe e ouvi-la dize que ela
era uma filha muito amada. Por mais que
a garotinha puxasse pela memória, não conseguia lembrar sequer de uma única vez
de ter agradado à genitora, pelo contrário, sempre ouvira dizer que ela
era um castigo de Deus, que tudo que ela mais detestava era mulher loira de
olhos azuis e dera a luz a uma, que mal teria feito para ser punida assim: uma filha loira? E ainda acrescentava: - Filha
desajeitada, não tem elegância para andar,
sentar e falar. – Se a felicidade existe, aqui eu não a encontrarei,
pensou a menina, e já que não acostumada
com os maus tratos e injustiças maternas, decidiu seguir os conselhos da lua e propôs à
matriarca que cuidaria com esmero do
galinheiro e venderia os ovos não
consumidos. Uma sonora gargalhada ecoou pela casa ao ouvir a proposta da filha e disse: - Uma
pessoa feia e ignorante como você não
vai conseguir vender sequer um ovo, se quiser arriscar a ser motivo de deboche
dos vizinhos, pode fazer o que desejas. Eu
não me oponho não incentivo e não ajudo.
E os dias seguiam
lentamente, a menina trabalhava a
semana inteira e aos domingos, quando iam à missa na cidade, levava os ovos em
sua mochila e vendia-os na venda do Senhor Adão e não comprava nem uma bala, guarda em segredo o seu
dinheiro e ninguém da família percebia nada porque ela não descuidava de suas
obrigações mas prestava muita atenção
nas falas das pessoas adultas, nas noticias do rádio, lia os jornais velhos que
encontrava.Os anos foram se passando, ela ficou maior de idade, tirou seus
documentos e disse a sua mãe que iria morar na capital. Sua mãe quase explodiu de tanto rir,
e disse que pagaria para ver como ela iria se virar, já que era uma
incompetente. Ela nada respondeu, abaixou a cabeça e foi cuidar de suas obrigações,
já que era a Gata Borralheira da casa e
à noite, á luz do luar, arrumou a sua trouxinha, pegou o seu dinheiro e partiu
para a casa. Passou frio, fome, medo, humilhação, mas conseguiu um bom
trabalho, estudou, comprou casa própria e
anualmente ia visitar a mãe e lhe cobria de presente, e talvez por força
do hábito, ela continuava a reclamar e a humilhá-la e a enaltecer as outras
duas filhas. Porém, as irmãs mais velhas
casaram, esqueceram e abandonaram a mãe em seu leito de morte,
sequer avisaram a nossa protagonista de sua doença e de sua morte, lhe negaram o direito de velar a sua mãe.
Deixe os seus comentário sobre as relações mães e filhas. Grata!!!
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