sábado, 9 de novembro de 2019

Mãe infeliz



Era uma vez, não pense que um conto de fadas, é uma história triste  e aconteceu faz pouco, não muito distante daqui. É a  história de uma menina que tinha uma mãe infeliz. Ela gritava, ofendia verbalmente e as tarefas mais pesadas da casa, a ela eram  destinadas, desde a alvorada dos pássaros até o pio das corujas noturnas, ela ficava na lida, sob o olhar vigilante e severo de sua genitora. Elas moravam às margens da represa de Três Marias, de águas límpidas e prateadas. Uma noite, após um exaustivo dia trabalho, a garotinha  não conseguia dormir  por causa do calor e do zumbido dos pernilongos, então, ela levantou, olhou para a janela e viu a lua refletida nas águas da represa,  levantou os olhos  para o céu e viu  a lua cheia e teve a impressão   de ouvir a voz dela a  lhe dizer baixinho: Não fique triste, um dia você vai conseguir  partir para longe e viver uma outra  vida, bem mais divertida, mas para que isso aconteça, você precisa trabalhar muito e economizar ainda mais.- Economizar como? Se eu não lido com dinheiro, tudo que visto são as roupas de minhas irmãs mais velhas? Somente trabalho, levo broncas e palmadas injustamente. E a lua respondeu: A partir de amanhã, você proporá à sua mãe que lhe irá trabalhar com muita dedicação e cuidará com mais empenho ainda do galinheiro, e que os ovos não consumidos irá vendê-los e guardar o dinheiro para a sua velhice. Não comente os seus planos de partir, pois será motivo de chacota, não compre nada para você, preste atenção nas notícias do rádio, para que conheça um pouco do mundo lá fora, também não  fale sobre o seu dinheiro. Agora vai, retorne ao seu leito e durma tranqüila.
Ao cantar do galo, a garotinha acordou, espreguiçou um pouco e pensou em sua conversa com a lua. Será que tinha sonhado? Nunca ouvira alguém dizer que  lua falasse! Ela pensou em sua  rotina diária, ouvindo sua mãe reclamar de tudo e  principalmente dela, por mais que se esforçasse, nunca conseguia agradá-la e este era o seu maior desejo: aconchegar-se nos braços macios de sua mãe e ouvi-la dize que ela era uma filha  muito amada. Por mais que a garotinha puxasse pela memória, não conseguia lembrar sequer de  uma única vez  de ter agradado à genitora, pelo contrário, sempre ouvira dizer que ela era um castigo de Deus, que tudo que ela mais detestava era mulher loira de olhos azuis e dera a luz a uma, que mal teria feito para  ser punida assim: uma filha  loira? E ainda acrescentava: - Filha desajeitada, não tem elegância para andar,  sentar e falar. – Se a felicidade existe, aqui eu não a encontrarei, pensou a menina, e já que  não acostumada com os maus tratos e injustiças maternas, decidiu  seguir os conselhos da lua e propôs à matriarca  que cuidaria com esmero do galinheiro e venderia  os ovos não consumidos. Uma sonora gargalhada ecoou pela casa  ao ouvir a proposta da filha e disse: - Uma pessoa feia e ignorante como você  não vai conseguir vender sequer um ovo, se quiser arriscar a ser motivo de deboche dos vizinhos, pode  fazer o que desejas. Eu não me oponho não incentivo e não ajudo.
E os dias seguiam  lentamente, a menina trabalhava  a semana inteira e aos domingos, quando iam à missa na cidade, levava os ovos em sua mochila e  vendia-os  na venda do Senhor Adão e não comprava  nem uma bala, guarda em segredo o seu dinheiro e ninguém da família percebia nada porque ela não descuidava de suas obrigações  mas prestava muita atenção nas falas das pessoas adultas, nas noticias do rádio, lia os jornais velhos que encontrava.Os anos foram se passando, ela ficou maior de idade, tirou seus documentos e disse a sua mãe que iria morar na  capital. Sua mãe quase explodiu de tanto rir, e disse que pagaria para ver como ela iria se virar, já que era uma incompetente. Ela nada respondeu, abaixou a cabeça e foi cuidar de suas obrigações, já que era a Gata Borralheira da  casa e à noite, á luz do luar, arrumou a sua trouxinha, pegou o seu dinheiro e partiu para a casa. Passou frio, fome, medo, humilhação, mas conseguiu um bom trabalho, estudou, comprou casa própria e  anualmente ia visitar a mãe e lhe cobria de presente, e talvez por força do hábito, ela continuava a reclamar e a humilhá-la e a enaltecer as outras duas filhas. Porém, as irmãs mais velhas  casaram,  esqueceram  e  abandonaram a mãe em seu leito de morte, sequer avisaram a nossa protagonista de sua doença e de sua morte,  lhe negaram o direito de  velar a sua mãe.

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