sábado, 30 de novembro de 2019

Carestia em casa de pobre



          Tem coisas que sempre existiram desde que o mundo é mundo, e tem coisas que não há como mudar, por mais que o homem tente intervir na criação divina e uma delas é a carestia em casa de pobre.  No outono é a época da grande safra da natureza,  mas o citadino  está distante dela e o roceiro não sabe apreciar a riqueza de seus frutos. No inverno, o  frio chega para todos, os dias ficam menores e as noites mais  longas e o corpo sofre com a temperatura . Na primavera, chuvas esparsas, a beleza das flores e alegria dos pássaros invade os prados, porém, os casebres continuam sombrios. No verão, férias, praia e mar convidam, mas a carteira continua vazia, o trabalho  pesado, porém,  a carestia continua   em casa de pobre.
          Passam-se os anos, mudam-se as leis,  os governos,  a tecnologia avança, o homem desbrava o espaço, novas religiões surgem, novos cursos universitários, mas a carestia continua fincada na casa do pobre.
          A ciência pode provar que o sol não emite calor, que a água do mar não é salgada e que a lua tem brilho próprio, porém ela será incapaz  de negar a carestia  da casa do pobre.
          Nem mesmo a criação de programas sociais como cotas universitárias, Fies, Prouni, bolsa família,  minha casa minha vida, nada  disso será capaz de  expulsar a carestia da casa do pobre.
          Existem aqueles que acreditam  em meritocracia,  reencarnação, em carma a ser cumprido, maldição, sina, castigo de Deus e  existem aqueles que  apenas creem  na perenidade da carestia em casa de pobre.
          Enquanto alimentos são desperdiçados durante o transporte, em  suntuosos banquetes nas mansões dos milionários, a carestia  segue firme na casa do pobre.
          A ciência avança, as   igrejas, escolas e famílias abastadas procuram adequar-se aos novos tempos e a  carestia continua despreocupada nas casas dos pobres.
          O universo segue o seu ritmo indiferente  ao desejo  do homem  de desbravá-lo e dominá-lo igualzinho a carestia em casa de pobre porque assim sempre foi e assim sempre será, apesar dos  inflamados  discursos durante as campanhas eleitorais.

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