Desde tempos imemoriais o homem celebra: a
partida e o retorno da caça, o nascimento, a maturidade e
a morte, e com o surgimento da escrita e a criação das escolas, um
novo ritual nasceu: o da formatura! Acredita-se que esta celebração tem suas
raízes nas Universidades Medievais no século XI, na França e em
Paris, a cidade luz, das artes, da cultura, boemia, alta costura e
gastronomia; e na Itália, em Bolonha, a cidade vermelha que encanta
moradores e turistas com os prédios milenares em terracota e
ornamentados com pórticos que cobrem as calçadas, além dos arcos que além de
embelezar, protege o caminhante do sol
escaldante do verão e das frias e fortes chuvas durante a estação das águas.
Naqueles idos tempos, o discípulo ao se tornar mestre ou artesão, no final da cerimônia, ele
recebia um testemunho de habilidade, atualmente conhecido como diploma.
Tantos são os saberes e todos tem o seu espaço na
sociedade e por mais simples que seja o curso, a celebração da conclusão de um ciclo de estudos é
necessária. Não importa o grau de sofisticação ou simplicidade, o que vale é
celebrar a vitória em um ritual de passagem
capaz de fixar os valores da cultura dos participantes. O poder dos
rituais está em sua capacidade de
devolver ao indivíduo a
consciência de que na sociedade e na
natureza deve prevalecer sempre a solidariedade, a cooperação e a interdependência entre os homens e a terra. Durante 100 horas
de aulas, alunas de um curso de capacitação de mulheres feministas efetuaram
vários trabalhos para celebrar a vitória do saber sobre a ignorância.
Diz um velho adágio popular, “que o que
começa errado, termina errado” e mais
uma vez a sabedoria tradicional comprovou sua eficácia. O curso
iniciou-se com 100 participantes, formaram 10. E as possíveis falhas serão
analisadas uma a uma.
I - A recepção – Por se tratar de um
movimento popular voluntário, os
coordenadores não eram os mais eficazes, mas aqueles que se dispuseram a
trabalhar sem remuneração e não souberam proporcionar aos iniciantes, nem uma
boa acolhida, menos ainda, esclarecimentos sobre o
movimento, seus objetivos, seu campo de atuação e sua importância para as
mulheres em situação de vulnerabilidade
II - Falas contraditórias. Na tentativa de explicar o movimento, repetiu-se
a exaustão que lá eram todas apenas mulheres, sem distinção de
classe social, étnica, credo e que não havia qualquer vínculo com
partidos políticos. Mas já na primeira aula, a palestrante voluntária
deixou bem claro que era militante esquerdista e as
coordenadoras se entusiasmaram e o que era para ser
assunto tipicamente feminino, terminou em uma discussão
política/partidária e neste dia, já houve
várias desistência.
III – Durante a aula inaugural, foram vendidas canecas
com a logomarca do movimento, alegando que era para arrecadar fundos para a
formatura e também, orientou que as estudantes as levassem em todas as
aulas para evitar o uso de copos
descartáveis que levam mais de cem anos para se decompor na natureza
e que todas, como futuras feministas
militantes, deveriam dar o exemplo de
preservação da natureza. Solicitou que todas contribuíssem em espécie com o café que seria servido meia
hora antes do início de cada aula porque algumas saiam do trabalho direto para
o curso, com certeza, cansadas e famintas. Também orientou as mães que quando
não tivessem com quem deixar o seu rebento, que o levasse, uma coordenadora
ficaria responsável por eles. Vendeu-se um projeto fantástico!
IV - Na segunda aula, a primeira decepção: nem mesmo as coordenadoras levaram as canecas, o café foi servido após a
aula, o que impediu que muitas pudessem saciar a fome porque perderiam o último
ônibus, ficando impossibilitadas de
retornar ao lar usando transporte
público e, sendo moradoras de periferia, o preço de
um táxi ou motorista de
aplicativo estava além de suas posses, sem falar na decepção que foi a aula.
Uma atividade prática para que todas percebessem que vencer na vida somente
pelo trabalho é uma tarefa quase impossível e, para completar, crianças
correndo, falando alto comprometendo o entendimento da proposta da atividade,se é que havia.
V - Não é necessário dizer que a evasão, que já era grande
intensificou-se com a terceira aula: a confecção de uma boneca de pano
tradicional, bonita por sinal, porém, a oficineira não conseguiu explicar com clareza o objetivo da
atividade, e para confundir mais as
egressas, na aula anterior, a palestrante
havia criticado a tradição
milenar de oferecer bonecas as meninas, alegando que já estavam preparando a
menina para a maternidade e cuidados com casa. Ninguém ousou contestar,
mas com certeza, uma dúvida tirou o sono
de muitas delas, afinal, a maternidade não é tipicamente da biologia feminina?
A gestação, o parto e a amamentação são por natureza, atributos das mulheres,
que moram em casas e o cuidado do lar
deve ser compartilhado com todos os moradores, assim, como a responsabilidade
com os filhos, portanto, menina brincar com bonecas é saudável, sinal que será
boa mãe, e o menino também deve participar das brincadeiras porque será pai e
quanto mais cedo ele exercitar a
responsabilidade da paternidade melhor será para a família. E assim seguiam as
aulas, sempre na contramão da proposta, que se
dizia apartidária e no discurso prático político/partidário e
esquerdista prevalecia, e muitas vezes, discussões baseadas no senso
comum, sem nenhum fundamento antropológico e a sala de aula cada dia mais
vazia.
VI
– Para angariar fundos para a formatura, foram
feitos dois grandes eventos, com altos custos para as participantes, não só em
tempo, mas com material e transportes. Algumas trabalham com empenho até a
exaustão, enquanto outras, sequer ajudaram financeiramente. Quanto foi
arrecado? Não se sabe! Não houve prestação de contas.
VII – Em virtude da incapacidade das palestrantes e coordenadoras de
agregar, espontaneamente, formou-se dois
grupos, o de maior e o outro de menor poder aquisitivo o que dificultava as
discussões, porque se o grupo A, falava, o B emudecia, empobrecendo assim, o
debate. Entre uma animosidade e outra chegou o dia da tão esperada formatura. Aí,
sim, a situação ficou bem tensa porque
grupo B deseja uma formatura simples, bem informal, já o grupo A, queria
apenas o ritual tradicional, com as
bandeiras do país, estado e município,
composição da mesa, hino nacional. Falou-se em hino nacional, os ânimos se alteraram e o grupo B, posicionou-se contra, protestou alegando
que a proposta do projeto é a desconstrução dos valores vigentes da sociedade patriarcal, vale ressaltar que a
proposta da Carta de Princípios é o
combate ao machismo e a violência doméstica
pela informação, o conhecimento dos direitos e deveres das mulheres. Sem
entender a recusa em executar a maior canção
do pátria e sem disposição para discussão infrutífera, baseada no senso comum, uma voz do grupo A se
levantou e alegou que fazia questão do
protocolo, e houve aparente concordância do grupo opositor. Sem prestação de contas, as coordenadoras alegaram que não
havia dinheiro para a formatura e ela
aconteceu na garagem da casa de uma
formanda, com o tradicional pratinho, sem autoridades locais,
imprensa, bandeiras, composição de mesa e quando a Mestre de Cerimônia pediu que todos ficassem
de pé para a audição do hino nacional, uma desagradável surpresa: a
coordenadora responsável pelo som, cortou-o pela metade e alegou problemas técnicos. Mistério!
O som funcionava bem antes do hino e findo o ritual, funcionou perfeitamente, e os vizinhos
tiveram que chamar uma viatura policial
porque estavam incomodados com o som alto.
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os seus comentários sobre as
dificuldades enfrentadas em sua formatura.
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