Em uma terça-feira fria e chuvosa convidativa para ficar em casa, de preferência
no sofá, lendo um bom livro e tomando uma chá montanhês bem quente, Jurema resistiu a tentação, enfrentou o frio do entardecer e dirigiu-se ao seu
curso semanal de atualização feminina, ávida por novos conhecimento, não para
ampliar os seus horizontes intelectuais,
mas para preencher o vazio de seu solitário
coração. Estar em grupo, mesmo sem ter afinidades com as colegas, evitava
que ela entrasse em uma depressão profunda. Mas não houve aula, apenas um bate
papo, onde falaram tudo e não disseram nada.
As adentrar ao
espaço reservado para o encontro do grupo, Jurema percebeu a ausência de duas
coordenadoras do grupo, que eram sempre as primeiras a chegar, preparavam a
sala e recebiam as alunas e
palestrantes, porém, neste dia, quem fazia a acolhida era à coordenadora
geral, uma jovem bem relacionada, porém imatura. Nervosa, ela consultava o celular a todo instante e pedia um pouco mais de paciência para esperar a chegada de uma outra coordenadora, assim, com uma hora de atraso, deu início aos
esclarecimentos das tensões que pairavam no ar entre ela, as coordenadoras, e todos já haviam percebidos mas não
arriscavam a indagar.
Apesar do
grande esforço mental, Jurema não conseguiu entender o cerne da desavença.
Aos prantos, a coordenadora geral
iniciou a sua fala, dizendo que gosta e
trata igualmente todas, o que não é
verdade, pois quando Jurema pede a palavra, ela faz de conta que não percebe
e quando Jurema insiste em falar, ela
lhe passa a palavra cortando-a em
seguida, sem deixar que ela conclua a
sua linha de raciocínio, e não o faz com Zilda e Maria, que falam em demasia e histórias repetidas. Alegou também que não
sabia a razão pela qual fora acusada de preconceituosa com relação as colegas com menor poder aquisitivo e que comparece aos
encontros muito elegante para humilhá-las. Quanto a
comparecer bem vestida, ela explicou que o faz em virtude de seu trabalho e que
não tem tempo para ir a casa trocar de roupa. Relatou dramas pessoas, chorou,
justificou e tudo continuou tão obscuro quanto no início
da reunião. Para finalizar, passou a palavra a uma colega, para que conduzisse
uma roda de conversa, para que todas
tivessem a oportunidade de expor seus pontos de vista. Foi um horror!
Parecia o muro de lamentações! Jurema
ficou intrigada com um detalhe: por que
nunca reclamaram antes que estavam insatisfeitas com a didática do
curso? Às vésperas da formatura resolver dizer que foi tempo perdido, que esperavam outra coisa. Concluindo: A ingênua coordenadora ao abrir o seu coração, esperava um acolhimento, mas aconteceu justamente o
contrário, percebeu que o seu esforço e
dedicação fora em vão e as suas feridas abertas sangraram dolorosamente.
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