quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Hora da verdade



          Em uma  terça-feira fria e chuvosa  convidativa para ficar em casa, de preferência no sofá, lendo um bom livro e tomando uma chá montanhês bem quente,  Jurema resistiu a tentação, enfrentou  o frio do entardecer e dirigiu-se ao seu curso semanal de atualização feminina, ávida por novos conhecimento, não para ampliar os seus horizontes  intelectuais, mas para preencher o vazio de  seu solitário coração. Estar em grupo, mesmo sem ter afinidades com as colegas, evitava que ela entrasse em uma depressão profunda. Mas não houve aula, apenas um bate papo, onde falaram tudo e não disseram nada.
          As adentrar ao espaço reservado para o encontro do grupo, Jurema percebeu a ausência de duas coordenadoras do grupo, que eram sempre as primeiras a chegar, preparavam a sala e recebiam as alunas e  palestrantes, porém, neste dia, quem fazia a acolhida era à coordenadora geral, uma jovem bem relacionada, porém imatura. Nervosa,  ela consultava  o celular a todo instante e pedia  um pouco mais de paciência  para esperar    a chegada de uma outra coordenadora, assim,  com uma hora de atraso, deu início aos esclarecimentos das tensões que pairavam no ar entre  ela, as coordenadoras, e todos já haviam percebidos mas não arriscavam a indagar.
          Apesar do grande esforço mental, Jurema não conseguiu entender o cerne da  desavença.  Aos prantos, a  coordenadora geral iniciou a sua fala, dizendo que gosta  e trata igualmente  todas, o que não é verdade, pois quando  Jurema pede a  palavra, ela faz de conta que não percebe e  quando Jurema insiste em falar, ela lhe passa a palavra cortando-a  em seguida, sem deixar que ela conclua  a sua linha de raciocínio, e não o faz com Zilda e Maria, que falam em demasia e  histórias repetidas. Alegou também que não sabia a razão pela qual fora acusada de preconceituosa  com relação as colegas  com menor poder aquisitivo e que comparece aos encontros  muito elegante para humilhá-las. Quanto a comparecer bem vestida, ela explicou que o faz em virtude de seu trabalho e que não tem tempo para ir a casa trocar de roupa. Relatou dramas pessoas, chorou, justificou  e  tudo continuou tão obscuro quanto no início da reunião. Para finalizar, passou a palavra a uma colega, para que conduzisse uma  roda de conversa, para que todas tivessem a oportunidade de expor seus pontos de vista. Foi um horror! Parecia  o muro de lamentações! Jurema ficou intrigada com um detalhe: por que  nunca reclamaram antes que estavam insatisfeitas com a didática do curso?  Às vésperas da formatura resolver dizer que foi tempo perdido, que esperavam outra coisa. Concluindo: A ingênua coordenadora  ao abrir o seu coração, esperava  um acolhimento, mas aconteceu justamente o contrário,  percebeu que o seu esforço e dedicação fora em vão  e as suas feridas abertas sangraram dolorosamente.
         


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