Para Lola, o ano de 2019 começou difícil por
vários motivos, porém, somente dois serão citados. O primeiro porque ela passou a virada do ano com a casa cheia
de parentes, ávidos para desfrutar das delícias da vida cultural da capital paulista, sem custos com alimentação e diárias de hotel e
para ela, as despesas de mercados relativos a cinco meses. Isso mesmo! Pessoas
como Lola, que moram sozinhas, quando recebem visitas para os festejos de final
ano, pode preparar o bolso: um dia de refeição com cinco hóspede, equivale
a cinco dias ou mais porque nestas datas festivas, ninguém pensa em
perda de peso, apenas em aproveitar a
boca livre. E o outro motivo? Lola perdeu a eleição presidencial, por acreditar
no caminho do meio, e na experiência do Tucano no governo do estado, votou em Geraldo Alckmin , e
o eleito foi o candidato de extrema
direita Jair Bolsonaro; apesar das desilusões, ela seguia a sua vida de carestia e trabalho duro,
quando finalmente, recebeu a boa
noticia: O Presidente assinou o decreto que extinguiu o horário de verão. Lola jamais imaginou dizer: Obrigada
Presidente! Mas disse porque ficou
feliz!
O horário de verão foi instituído no
Brasil pelo presidente Getúlio Vargas, em 1º de outubro de 1931, por meio do Decreto
nº 20.466 e em 1933, a
adoção foi revogada e retomada novamente em 1949 vigorando até 1953, de 1963
até 1968. E de 1985 até 2018. Lola
nasceu exatamente em 1º de outubro de 1985, e no auge de seus 33 anos de idade, sempre sofreu com a mudança do horário. O leitor deve estar se perguntando a razão de Lola
ser grata ao Presidente pela assinatura do Decreto? Simples: A jovem
mora na periferia na Zona Leste da
capital, e trabalha como faxineira em
uma escola pública na Zona Sul, cujas
aulas iniciam-se as sete horas da manhã, portanto ela abre a escola às seis
horas para ter tempo hábil de preparar o ambiente para receber o corpo docente
e discente. Para chegar ao trabalho,
Lola levanta as quatro horas da madrugada para enfrentar ônibus, Trem Urbano,
Metrô, e com o relógio adiantado uma
hora, ela corre sérios riscos no ponto, esperando a condução. Fora o risco de ser assaltada,
estuprada e torturada, há outro inconveniente, com o dia mais longo e noite
mais curta, não se descansa o suficiente para enfrentar oito horas de
jornada da labuta diária para conseguir botar comida na
mesa e viver dignamente.
A casa nova aurora, Lola segue feliz
rumo à sua escola, apreciando a beleza do amanhecer, vários tons de vermelho surgindo no céu e o
trinado das aves a saudá-lo. Durante o fatídico horário de verão, sonolenta, ela nunca
atentou para a beleza das manhãs de primavera. E o entardecer? Na hora do crepúsculo,
quando os pássaros retornam ao ninho, ela chama as crianças da vizinhança, para juntas, desfrutarem das lindas e mornas
tardes do Brasil. -No ritmo da natureza,
uma hora faz diferença! Suspira feliz todas as manhãs.
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