quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Fim do horário de verão


           Para Lola, o ano de 2019 começou difícil por vários motivos, porém, somente dois serão citados. O primeiro porque  ela passou a virada do ano com a casa cheia de parentes, ávidos para desfrutar das delícias  da vida cultural da capital paulista, sem  custos com alimentação e diárias de hotel e para ela, as despesas de mercados relativos a cinco meses. Isso mesmo! Pessoas como Lola, que moram sozinhas, quando recebem visitas para os festejos de final ano, pode preparar o bolso: um dia de refeição com cinco hóspede, equivale a  cinco dias ou mais porque   nestas datas festivas, ninguém pensa em perda de peso, apenas em  aproveitar a boca livre. E o outro motivo? Lola perdeu a eleição presidencial,   por acreditar no caminho do meio, e na experiência do Tucano no governo do estado, votou em Geraldo Alckmin, e o eleito foi  o candidato de extrema direita Jair Bolsonaro; apesar das desilusões, ela seguia  a sua vida de carestia e trabalho duro, quando finalmente,  recebeu a boa noticia: O Presidente assinou o decreto que extinguiu o horário de verão.  Lola jamais imaginou dizer: Obrigada Presidente! Mas  disse porque ficou feliz!
          O horário de verão foi instituído no Brasil pelo presidente Getúlio Vargas,  em 1º de outubro de 1931, por meio do Decreto nº 20.466 e em 1933, a adoção foi revogada  e retomada  novamente em 1949 vigorando até 1953, de 1963 até  1968. E de 1985 até 2018. Lola nasceu exatamente em 1º de outubro de 1985, e no auge de  seus 33 anos de idade, sempre sofreu com  a mudança do horário. O leitor deve  estar se perguntando a razão de  Lola  ser grata ao Presidente pela assinatura do Decreto? Simples: A jovem mora na periferia na Zona Leste  da capital, e trabalha  como faxineira em uma escola pública  na Zona Sul, cujas aulas iniciam-se as sete horas da manhã, portanto ela abre a escola às seis horas para ter tempo hábil de preparar o ambiente para receber o corpo docente e discente. Para chegar  ao trabalho, Lola levanta as quatro horas da madrugada para enfrentar ônibus, Trem Urbano, Metrô, e com  o relógio adiantado uma hora, ela corre sérios riscos no ponto, esperando a  condução. Fora o risco de ser assaltada, estuprada e torturada, há outro inconveniente, com o dia mais longo e noite mais curta, não  se descansa  o suficiente para enfrentar oito horas de jornada  da  labuta diária para conseguir botar comida na mesa e viver dignamente.
          A casa nova aurora, Lola segue feliz rumo à sua escola, apreciando a beleza do amanhecer,  vários tons de vermelho surgindo no céu e o trinado das aves  a saudá-lo.  Durante o fatídico  horário de verão, sonolenta, ela nunca atentou para a beleza  das manhãs  de primavera. E o entardecer? Na hora do crepúsculo, quando os pássaros retornam ao ninho, ela chama as crianças  da vizinhança, para  juntas, desfrutarem das lindas  e mornas  tardes  do Brasil. -No ritmo da natureza, uma hora faz diferença! Suspira feliz  todas as manhãs.

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