segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Dentes quebrados


     Uma das mais eficientes maneiras de fazer contato é o sorriso. Ele  é uma forma de comunicação  mundial  eficaz para  superar a barreira do idioma; pelo sorriso, o interlocutor percebe  se deve insistir   na tentativa de  diálogo. Na Terra do Sol Nascente, pesquisadores debruçaram-se sobre o tema e em 2001, um grupo de estudiosos observaram melhoras   de um quadro alérgico, em pacientes após assistir a filmes de  Charles Chaplin. Em cada época e   nação  o sorriso  possui a sua própria interpretação. Para espantar os inimigos e proteger as famílias os antigos samurais pintavam os dentes de preto, posteriormente, as mulheres  japonesas ricas, aderiam ao costumes, inclusive as gueixas  também aderiam a moda. Gargalhadas generosas como as da nossa querida Fafá de Belém,  pode ser interpretadas pelos ingleses como vulgares e até cínicas, já os franceses, consideram estúpido  sorrir para estranhos porém,  os brasileiros, apreciam  mostrar dentes brancos e bem cuidados  em sonoras risadas  pois quem  gosta de  mostrar dentes cariados e escuros  em estridentes gargalhadas são as bruxas dos filmes de contos de fadas.
     Elma   sentia orgulho  de  sua arcada dentária bem cuidada, sequer possuía um carro porque   anualmente frequentava excelentes clínicas odontológicas em busca de  cuidados e novidades e lá  deixava  praticamente 30% de sua minguada renda anual, oriunda de  seu trabalho  em uma empresa de transportes. Orgulhava-se de ter chegado aos 65 anos de idade com todos os seus  dentes originais, e sonhava ir com eles para o túmulo. Mas os desígnios do destino são outros!
     Em 06 de outubro de 2019, Elma desceu  a serra para  apreciar o mar do sul do estado, lá encontrou apenas   um aguaceiro e frio.  A maré alta e a praia, somente  vista pela vidraça embaçada. Cansada de ficar  presa em seu apartamento assistindo televisão, resolveu sair para almoçar em um restaurante nas proximidades. Resoluta, calçou o tênis, armou-se com o seu guarda-chuva e saiu  para matar o que estava lhe matando: a “fome”. Andou  duas quadras e com uma rajada de vento  de  70 km/hora, se   desequilibrou  e caiu de bruços na  calçada e quebrou quatro dentes da  arcada superior e  desta vez terá que enfrentar  o procedimento odontológico para implantes. Do que ela terá orgulho agora? De ter tido apenas leve escoriações pelo corpo com a queda?  Preocupação sim, ela terá nos próximos meses. Terá que controlar o seu sorriso espontâneo até os dentes provisórios ficarem prontos. Será necessário  cuidado dobrado ao alimentar-se porque  como o nome já diz: provisórios, não são bem firmes  e a pior de todas as preocupações: a conta do profissional.  – Meu sorriso jamais será o mesmo!  Suspira tristemente!

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