E o Natal chegou! Qual
foi a diferença para mim? Nenhuma, porque o sentimento religioso que nesta data
nasceu o Salvador do mundo, não existe mais em
meu coração e nem sei se ele
existiu uma dia. Em minha infância, nunca ganhei um presente de natal, a casa
nunca foi decorada com enfeites dourados e vermelhos e, presépio, só conhece adulta, com os meus próprio meios. Havia
sim, a reza do terço na noite de 24 de dezembro, e talvez, o que tenha
colaborado para a minha descrença foi o fato de rezar e nada acontecer. Tudo
muito abstrato para uma criança. São
tantos os meus sonhos não realizados, mas um que dói é o fato de nunca ter
acordado de manhã e encontrado
qualquer coisa em meus chinelinhos, que nem sapato eu tinha. Uma vez,
descobriram que eu havia colocado os
chinelos na janela e até o último
suspiro dos meus familiares, fui vítima
de chacota. A infância sem a concretização
da magia é seca e dolorosa para a criança com imaginação fértil. Se não tinham condições de me dar sequer um pirulito, por
que alimentavam a esperança?
Durante um período em minha vida, aderi
ao programa dos Correios de fazer o natal de crianças pobres, e fazer a alegria
de uma criança, rejubilava o meu coração. Hoje, admito que o acúmulo
de frustrações, mágoas e solidão, fez de
mim uma pessoa egoísta que não consigo mais pensar na possibilidade de dar um
pouco de felicidade a alguém nesta data
especial, nem mesmo de uma inocente
criança. Tudo aquilo que sonhei, desejei, não chegou para mim, por que
outro tem esse direito? Generosidade não está mais em meu coração. Durante
anos, enviei cartões, dei presentes, e, nunca
fui lembrada por aqueles que me eram caros. Alguns ainda tinham a
gentileza de retribuir. Só que há uma diferença: Retribuir significa que o
destinatário lembrou de mim somente quando recebeu o mimo. Este ano, enviei, via
Correios, seis cartões de natal, apenas uma pessoa agradeceu, assim, digo com
segurança, que o investimento não valeu a pena. Ninguém se preocupa com a solitária
aqui, uma mulher seca, cujo ventre não
foi capaz de gerar uma vida. Se tivesse pelo menos um filho, para nestas datas festivas, aparecer para filar bóia
e economizar nas despesas de final de ano, eu não seria tão sozinha.
O que tenho nos finais de anos é apenas o brilho da
lua e das estrelas. Ontem fui à missa, não
por acreditar nos mistérios e magia do natal, mas para amenizar a minha solidão
e talvez, encontrar um namorado. Saí de
antena ligada, com o pescoço girando
para a direita e para a esquerda, para a minha decepção, meus olhos não alcançaram um homem com idade compatível a
minha sozinho, os “da bengala” estão todos acompanhados de esposa, filhos e
netos. Não quero um companheiro muito
mais novo do que eu, por duas razões sérias: medo que ele abrevie a minha partida para a “terra
dos pés juntos” e de traições, pois uma octogenária já está com a sexualidade
serenada. Posso até não conseguir
encontrar um namorado com idade compatível
com a minha, mas o fato de sair à
procura, é um bom antídoto para amenizar a solidão.
Este ano de 2022, muitas pessoas de minha infância partiram, até a rainha
Elizabete II, que nós, ingenuamente, acreditávamos que trocaríamos de morada primeiro, se foi. E segue a lista:
Elza Soares, Jô Soares, Milton Gonçalves, Olavo de Carvalho, Carlos
Eduardo Moreira e Arnaldo Jabor. Cláudia Jimenez, Gal Costa, Rolando Boldrin, Éramos Carlos, e muitos outros, e quanto ao
rei do futebol, o Pelé, os boletins médicos,
não são animadores. O preço que
se paga pela longevidade é a solidão! Familiares, amigos, colegas de trabalho e ídolos, partem, um a um. Então, o que tenho a
celebrar hoje é a vida e a saúde!
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