domingo, 25 de dezembro de 2022

Solidão natalina

         

E o Natal chegou! Qual foi a diferença para mim? Nenhuma, porque o sentimento religioso que nesta data nasceu o Salvador do mundo, não existe mais em  meu coração e  nem sei se ele existiu uma dia. Em minha infância, nunca ganhei um presente de natal, a casa nunca foi decorada com enfeites dourados e vermelhos e, presépio,   conhece adulta, com os meus próprio meios. Havia sim, a reza do terço  na noite de  24 de dezembro, e talvez, o que tenha colaborado para a minha descrença foi o fato de rezar e nada acontecer. Tudo muito abstrato para  uma criança. São tantos os meus sonhos não realizados, mas um que dói é o fato  de nunca ter  acordado de manhã e encontrado  qualquer coisa em meus chinelinhos, que nem sapato eu tinha. Uma vez, descobriram que eu havia colocado os  chinelos na janela e até o  último suspiro dos meus familiares, fui  vítima de chacota. A infância sem  a concretização da magia é seca e dolorosa para a criança com imaginação fértil. Se não tinham  condições de me dar sequer um pirulito, por que alimentavam a esperança?

       Durante um período em minha vida, aderi ao programa dos Correios de fazer o natal de crianças pobres, e fazer a alegria de uma criança, rejubilava o meu coração. Hoje, admito que  o  acúmulo de frustrações, mágoas e solidão,  fez de mim uma pessoa egoísta que não consigo mais pensar na possibilidade de dar um pouco  de felicidade a alguém nesta data especial, nem mesmo de uma inocente  criança. Tudo aquilo que sonhei, desejei, não chegou para mim, por que outro tem esse direito? Generosidade não está mais em meu coração. Durante anos, enviei cartões, dei presentes, e, nunca  fui lembrada por aqueles que me eram caros. Alguns ainda tinham a gentileza de retribuir. Só que há uma diferença: Retribuir significa que o destinatário lembrou de mim somente  quando recebeu o mimo. Este ano, enviei, via Correios, seis cartões de natal, apenas uma pessoa agradeceu, assim, digo com segurança, que o investimento não valeu a pena. Ninguém se preocupa com a solitária aqui, uma mulher seca, cujo ventre não  foi capaz de gerar uma vida. Se tivesse pelo menos um filho, para  nestas datas festivas, aparecer para filar bóia e economizar nas despesas de final de ano, eu não seria tão sozinha.

       O que tenho  nos finais de anos é apenas o brilho da lua  e das estrelas. Ontem fui à missa, não por acreditar nos mistérios e magia do natal, mas para amenizar a minha solidão e talvez, encontrar um  namorado. Saí de antena ligada,  com o pescoço girando para a direita e para a esquerda, para a minha decepção,  meus olhos não  alcançaram um homem com idade compatível a minha sozinho, os “da bengala” estão todos acompanhados de esposa, filhos e netos. Não quero um  companheiro muito mais novo do que eu, por  duas razões sérias:  medo que ele abrevie a minha partida para a “terra dos pés juntos” e de traições, pois uma octogenária já está com a sexualidade serenada.  Posso até não conseguir encontrar um namorado  com idade compatível com a minha,  mas o fato de sair à procura, é um bom antídoto para amenizar a solidão.

       Este ano de 2022, muitas pessoas  de minha infância partiram, até a rainha Elizabete II, que nós, ingenuamente, acreditávamos que  trocaríamos de morada primeiro, se foi. E  segue a lista:  Elza Soares, Jô Soares, Milton Gonçalves, Olavo de Carvalho, Carlos Eduardo Moreira e Arnaldo Jabor. Cláudia Jimenez, Gal Costa,  Rolando Boldrin,  Éramos Carlos, e muitos outros, e quanto ao rei do futebol, o Pelé, os boletins médicos,   não são animadores. O preço que se paga pela longevidade é a solidão!   Familiares, amigos, colegas de trabalho e ídolos,  partem, um a um. Então, o que tenho a celebrar hoje é a vida e a saúde!

 

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