O vento do sul soprou
impiedosamente a anunciar o
temporal previsto para a madrugada,
raramente os meteorologistas acertam, mas naquela noite, foram certeiro e as nuvens não
economizaram água, deixou que caíssem em abundância na terra sedenta. Após
a tormenta, uma chuva fina e continua
perdurou por todo o dia. Rosalina sabia que não podia desfrutar muito do
aconchego da cama, precisa ir ao jardim ver os estragos decorrentes da
tempestade. Os canteiros estavam cheios de água e, nem mesmo o
aguaceiro noturno impediram os gatos dos
vizinhos de usarem os canteiros como caixa de areia.
O cheiro estava insuportável e Rosalina se viu obrigada a colocar luvas e revirar o seu estoque de
sacos plásticos para iniciar a limpeza e
tentar salvar as plantinhas que lutavam
para criar raízes e viam as gotas de águas como uma benção celestial. Trabalhava
com afinco, indiferente aos ruídos matinais
da grande metrópole: gritos de bêbados,
o toc toc dos saltos das mulheres
apressadas para chegarem ao trabalho, mãe
gritando com os filhos, o problema diário durante o ano
letivo e mais vozes indistintas e o barulho os carros. Já havia tentando todas as dicas das amigas e da internet para
afastar os bichanos: alho, arruda, alecrim, hortelã, pimenta do reino,
malagueta, naftalina, palito de
churrasco e nenhum resultado foi obtido. Parece que o animal perdeu
os sentidos da visão, olfato e sensibilidade à dor.
Rosalina não almeja muito, apenas quebrar a monotonia do cinza do corredor do prédio
com cores vibrantes, dos coleus, margaridas, cravos, begônias e vincas. É uma
luta diária, mas a jovem não pensa em
desistir, silenciosamente, refaz o plantio. Com tristeza, pensa nos tutores de
felinos, que querem desfrutar da companhia do animal, mas recusa a arcar com o ônus
de limpar a caixa de areia. Seu desgaste
é diário, mas ela alimenta a esperança e
apesar de árdua, ela acredita que vencerá
a luta e beleza irá predominar.
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