Romper com o passado profissional
é difícil, principalmente para os profissionais do magistério, que
levam serviço para casa e, em virtude da
peculiaridade da função, acumulam
excesso de material durante os longos
vinte cinco anos de árduo
trabalho. A profissão exige aperfeiçoamento
constante em conteúdo e novas
tecnologias. No século XX, até a década de 1990, reinava o mimeógrafo, que pode ser considerado o avô
das copiadoras modernas. Era manual e
funcionava com o auxílio de uma manivela. O sofrimento maior era do professor,
que datilografava ou escrevia a
prova em uma folha conhecida pelo nome de estêncil ou matriz, que
continha um carbono. Com a parte escrita
voltada para cima, a folha era colocada no entorno do rolo do aparelho, onde
havia um tipo de uma esponja que era
umedecida com álcool e o texto
aparecia do lado oposto da folha, com
aquele cheiro peculiar de
produtos derivados da cana-de-açucar. E o carrossel de slides? Era tecnologia de ponta e os educandos
ansiavam pelas aulas em que os mestres,
apresentavam imagens projetadas na parede. Hoje os tempos são outros! Os estudantes estão saturados de imagens oriundas das redes sociais, internet,
que sequer prestam atenção quando o mestre
faz projeções. Ele passa horas,
preparando uma aula com
imagens em PowerPoint para apresentá-las para as cadeiras. Novos tempos!
Profissionais
da educação tem por hábito carregar qualquer papel que possa enriquecer a sua fala, melhorar a sua
argumentação com a galera jovem e
questionadora. E, assim, lentamente, a estante vai acumulando poeira e papéis. A
cada três anos, recebem coleções de divulgação
das editoras, compram livros em feiras e bienais. Quando chegam o momento
da aposentadoria, o estoque é grande e é preciso esvaziar as prateleiras. O que fazer
com tanto material? E assim, começa uma nova jornada, selecionar
o que é lixo, o que pode ser reciclado e
o que está em bom estado para doação.
Quais colegas irão receber o material? È hora de sair atrás de profissionais
que estão ingressando ávidos de novidades e
experiências.
Durante
a seleção, com tristeza o profissional
percebe que poderia ter feito uso melhor de todo o material que esperava silenciosamente, para ser compartilhado com a juventude. Mas
ficou ali, parado, talvez porque o professor nem sequer lembrava que possuía
ou
o cansaço sugava toda a sua
energia e ele não tinha forças, para enriquecer as suas aulas e, tristemente
entrega ao novo dono, que sorri e agradece dizendo que irá usar tudo, mas o veterano sabe que, passado o
entusiasmo, tudo irá para a estante,
onde permanecerá por mais vinte e cinco anos. Agora, com as novas tecnologias, é
copiar e salvar. Acumular tudo no computador, para posteriormente enviar à um colega iniciante ou simplesmente, deletar. E os papéis? Toda cidade
agora tem serviços de reciclagem, o
destino certo de tanto saber é o caminhão da prefeitura responsável pela
limpeza urbana.
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