O preço da água subiu como foguete em dia de lançamento. E junto com a taxa de esgoto, consome quase todo o salário do mês — como um hóspede indesejado que chega, se instala e ainda exige jantar. A manutenção da casa virou um luxo: trabalho, dinheiro e tempo livre jogados ao vento, literalmente. Foi então que tomei uma decisão drástica, porém sensata: esvaziei a piscina.
Adeus preocupações com dengue, zika e companhia. A
água se foi, e com ela, a paz de espírito. Parti para uma viagem merecida,
longe das contas e das larvas. Quando voltei, a piscina estava lá, seca como
prometido, com uma leve garoa que não ameaçava encher nada. Evaporação, pensei.
Tudo sob controle.
Mas eis que surge o mistério.
Ao me aproximar, vi algo que me fez parar: penas.
Muitas penas. Penas de galinha, grudadas no fundo da piscina como se tivessem
sido coladas por um artista macabro. Sem ossos, sem sangue, sem bico, sem
unhas. Apenas penas. E poeira. Poeira que se aliou às penas e formou uma crosta
tão resistente que precisei de uma enxada para raspar.
E agora, caro leitor, começa o enigma.
Não tenho criação de galinhas. Os vizinhos também
não. Então, de onde vieram aquelas penas?
A primeira suspeita: minha irmã. Dona de um
temperamento que mistura inveja com vingança, talvez tenha se irritado por não
mais desfrutar de um bem que nunca lhe pertenceu — e que jamais ajudou a
manter. Seu lema é claro: você trabalha, paga, e eu desfruto. Teria ela jogado
penas como forma de protesto passivo-agressivo?
Segunda hipótese: um animal. Escorraçado de algum
galinheiro, encontrou na piscina um refúgio para sua última refeição. Mas a
ausência de ossos, bico e unhas me intriga. Teria sido uma galinha fantasma?
Por fim, a teoria mais esotérica: algum charlatão,
desses que prometem milagres em troca de ingredientes estranhos, pediu a uma
alma desesperada penas de galinha para um ritual. E, sem cerimônia, despejou
tudo ali, como se a piscina fosse altar.
E você, leitor atento e curioso: o que acredita que
aconteceu? Teria sido vingança, feitiçaria ou apenas uma galinha sem rumo e sem
corpo?
A piscina continua seca. Mas o mistério, esse, está
longe de evaporar.
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