— O que deveria ser uma celebração do civismo e da
independência nacional se transformou, neste domingo, em um retrato preocupante
da negligência e da espetacularização infantil. O desfile cívico realizado na
principal avenida da cidade expôs crianças — inclusive de creche — a condições
insalubres, sob o sol forte da manhã, em um asfalto cuja temperatura
ultrapassava os 35 °C.
A reportagem esteve presente e constatou que,
enquanto autoridades discursavam por mais de 45 minutos em um palanque coberto
e abastecido com água, crianças aguardavam em formação, muitas delas descalças,
representando povos originários e transplantados. A cena, que deveria evocar
respeito à diversidade cultural, acabou revelando um cenário de sofrimento
físico e desatenção institucional.
Pais como espectadores e
cinegrafistas
O comportamento dos pais também chamou atenção.
Muitos invadiram o espaço reservado às escolas para filmar e fotografar seus
filhos, ignorando protocolos e o próprio sentido do evento. O civismo deu lugar
à vaidade digital, como se o único propósito fosse alimentar redes sociais com
imagens da “cria”, em detrimento da segurança e do bem-estar dos pequenos.
Educadores calçados, crianças descalças
Professores e organizadores, por sua vez, pareciam
mais preocupados em exibir o resultado de seus ensaios do que em garantir
condições adequadas para os participantes. Enquanto os adultos estavam
devidamente calçados, as crianças marchavam sobre o asfalto quente, em trajes
simbólicos, mas sem qualquer proteção para os pés — uma escolha pedagógica
difícil de justificar.
Autoridades em conforto, crianças em sofrimento
No palanque, autoridades locais discursavam
longamente, ignorando o tempo excessivo de espera imposto aos jovens
participantes. Em vez de uma cerimônia breve e simbólica — com agradecimentos,
execução dos hinos e início imediato do desfile — o evento se arrastou,
submetendo os menores a mais de duas horas sob calor intenso.
Reflexão e responsabilidade
A pergunta que fica é: qual a mensagem que se
pretende transmitir às novas gerações? Que o patriotismo se mede pelo
sofrimento físico? Que o civismo é um espetáculo para adultos, enquanto
crianças são figurantes descartáveis?
A denúncia está feita. Cabe agora à Secretaria
Municipal de Educação avaliar os excessos e rever protocolos. O desfile cívico
não pode ser palco de negligência. Se fossem seus filhos, descalços sob o sol,
você aceitaria?
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