O último
dia de agosto escorria pelas janelas como uma lágrima tímida. O céu, de um
cinza pálido, parecia refletir o que havia dentro dela: um cansaço antigo, uma
solidão que não sabia mais nomear.
Ela
caminhava pela praça, onde as folhas secas dançavam ao vento como se zombassem
da imobilidade dos seus dias. Sentou-se num banco de madeira gasto, e ali, como
quem conversa com o tempo, murmurou:
— Agosto...
mais um mês que termina sem que ninguém tenha notado minha existência.
Um senhor
de chapéu, que lia um jornal ao lado, levantou os olhos por um instante. Ela
tentou sorrir, mas ele apenas voltou à leitura, como se o mundo tivesse
decidido que ela era invisível.
— Dizem
que agosto é o mês do desgosto — ela continuou agora falando com o vento. — Mas
para mim, todos os meses são iguais. A solidão não tem calendário.
Uma jovem
passou com um grupo de amigos, rindo alto. Ela tentou se aproximar, puxar
conversa:
— Que dia
bonito, não é?
— Uhum —
respondeu a moça, sem parar de andar.
Silêncio.
Sempre o silêncio. Como se suas palavras fossem feitas de fumaça.
Ela
voltou a olhar para o chão, onde uma formiga carregava um pedaço de folha maior
que ela.
— Eu
tento, sabe? Tento me encaixar. Não me visto melhor que ninguém, falo das
mesmas coisas... mas parece que minha presença incomoda. Ou pior: não é sequer
notada.
Um rapaz
sentou-se ao seu lado. Ela respirou fundo. Talvez... talvez fosse diferente.
— Oi —
disse ela, com um sorriso que carregava esperança.
— Oi —
ele respondeu, olhando o celular. — Só esperando alguém.
Ela
assentiu, tentando não parecer decepcionada. Mas ele se levantou antes que o
tempo pudesse criar qualquer ponte.
— Toda
mulher tem uma história de amor, não tem? — ela disse ao banco vazio. — Um
homem que corre atrás, que insiste, que vê nela algo único. Mas comigo... no
primeiro não, eles somem. Como se eu fosse feita de névoa.
O céu
começou a escurecer. Agosto se despedia com um vento frio e um sussurro de
folhas.
Ela se
levantou, abraçando a si mesma.
— Talvez
eu seja feita de silêncio. E o mundo, de barulho demais pra me ouvir.
E
caminhou, como quem dança com a ausência, deixando atrás de si apenas o som
leve dos passos e um perfume de saudade.
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