O mês de junho chegou com seus ventos perfumados de promessas e memórias. Nas manhãs ainda frescas, as filhas de dona Clarice — já crescidas, mas ainda fiéis aos ensinamentos da mãe — sentiam no coração o peso de uma audiência que se aproximava.
O pai,
agora viúvo há alguns anos, havia reconstruído parte da vida com uma mulher de
gênio difícil, cuja doçura era mais encenação do que afeto. Madrasta por título
e por destino, essa mulher agora pleiteava na justiça algo que não lhe cabia:
bens construídos muito antes de seu tempo, frutos de um amor antigo, sagrado e
vivido lado a lado por Clarice e seu marido.
À sombra
dessa ameaça, as irmãs se uniram em silêncio e fé. Acenderam velas para Santo
Antônio, que conhece os corações e sabe unir o que é justo. Prepararam uma
pequena fogueira no quintal, como símbolo da proteção de São João,
pedindo que a verdade brilhasse mais forte do que qualquer mentira. E sob a
imagem de São Pedro, deixaram uma chave de casa, pedindo que ele
mantivesse trancado o que não devia ser tomado.
Mas não
rezaram apenas aos santos. Em segredo, uma delas — a mais velha, que amava
histórias antigas — voltou os olhos aos céus e sussurrou o nome de Juno,
deusa antiga, rainha dos laços legítimos. Pediu-lhe que protegesse o que fora
construído com amor e dignidade, que guardasse a memória da mãe como se guarda
um altar.
E assim,
entre a tensão da audiência marcada e a fé que não se dobra, as herdeiras se
fortaleceram.
No dia do
julgamento, o céu estava limpo. A juíza — mulher firme e de olhos atentos —
ouviu os argumentos de todos. Mas havia algo além das palavras. Era como se o
próprio mês de junho soprasse sobre aquele tribunal o peso da verdade.
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