domingo, 1 de junho de 2025

Sob o Céu de Junho

 

O mês de junho chegou com seus ventos perfumados de promessas e memórias. Nas manhãs ainda frescas, as filhas de dona Clarice — já crescidas, mas ainda fiéis aos ensinamentos da mãe — sentiam no coração o peso de uma audiência que se aproximava.

O pai, agora viúvo há alguns anos, havia reconstruído parte da vida com uma mulher de gênio difícil, cuja doçura era mais encenação do que afeto. Madrasta por título e por destino, essa mulher agora pleiteava na justiça algo que não lhe cabia: bens construídos muito antes de seu tempo, frutos de um amor antigo, sagrado e vivido lado a lado por Clarice e seu marido.

À sombra dessa ameaça, as irmãs se uniram em silêncio e fé. Acenderam velas para Santo Antônio, que conhece os corações e sabe unir o que é justo. Prepararam uma pequena fogueira no quintal, como símbolo da proteção de São João, pedindo que a verdade brilhasse mais forte do que qualquer mentira. E sob a imagem de São Pedro, deixaram uma chave de casa, pedindo que ele mantivesse trancado o que não devia ser tomado.

Mas não rezaram apenas aos santos. Em segredo, uma delas — a mais velha, que amava histórias antigas — voltou os olhos aos céus e sussurrou o nome de Juno, deusa antiga, rainha dos laços legítimos. Pediu-lhe que protegesse o que fora construído com amor e dignidade, que guardasse a memória da mãe como se guarda um altar.

E assim, entre a tensão da audiência marcada e a fé que não se dobra, as herdeiras se fortaleceram.

No dia do julgamento, o céu estava limpo. A juíza — mulher firme e de olhos atentos — ouviu os argumentos de todos. Mas havia algo além das palavras. Era como se o próprio mês de junho soprasse sobre aquele tribunal o peso da verdade.

Ao final, a justiça se fez.
Não com gritos, mas com a serenidade de quem carrega a fé nos santos e nas deusas que protegem os que amam com verdade.

E quando saíram da sala, as irmãs sorriram.
Junho havia começado.
E com ele, a certeza de que nem todo mal vence quando o coração está em paz com a justiça.

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