Após
uma certa idade, a vida torna-se tão repetitiva que nem se dá conta de que independente do tempo,
se sol ou chuva, o corpo segue o piloto automático e não é diferente com Rosália, que no auge de seus oitenta anos, acorda às 5
horas da manhã, hábito adquirido na
longínqua infância quando tinha que percorrer a pé, 3 quilômetros para
chegar a escola às 07 horas em ponto. Assim , todas
as manhãs iniciam exatamente iguais: após
a toalete matinal, cama arrumada, antes
do café da manhã, dedica-se aos cuidados com as plantas do pequeno jardim.
Seus
olhos nunca cansam de apreciar as
nuances da natureza, que passam despercebidas aos apressados. Uma folha que cai, uma flor em
seu lento desabrochar e as formigas em seu
incansável vai e vem. Cai a flor e nasce a semente e o ciclo recomeça assim
também é o ciclo da vida humana,
o filho nasce, cresce reproduz e a vida continua, A maior alegria do idoso é
ver suas sementes germinarem distante, com outras perspectivas de vida, mas
carregando dentro de si, a alma ancestral.
A
vida urbana arrancou o homem do contato direto
com a natureza e a pior consequência
consiste
na perda da sabedoria milenar das mulheres que durante milênios dominavam
todos os segredos das plantas e seu
poder medicinal. Embora desconheça a eficácia das plantas na cura dos males do corpo e da alma,
Rosàlia se beneficia delas no cuidado diário e quando os seus olhos passeiam
extasiados sob as nuances das cores, os contornos das folhas, flores e
caules e ela se sente feliz e revigorada
porque como já dizia os sábios
chineses: “Sempre a primavera, nunca as mesmas flores.” E em seu pequeno mundo verde,
Rosália é feliz porque a leitura da vida
se faz com os olhos, sensibilidade e
cicatrizes passadas.
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