terça-feira, 16 de julho de 2019

Retornar ao lar


          Com o passar dos anos e a  inevitável perda de parentes e amigos, faz nascer  no coração das ovelhas desgarradas da família, um desejo imenso de retornar aos antigos caminhos trilhados  segurando a mão protetora dos pais. Após  mais de trinta  anos de ausência, rever os familiares  causa  calafrios. O cheiro da terra, o frescor dos ventos, o sol escaldante, continuam os mesmos, isto é uma verdade incontestável, mas e  as  pessoas? Quem são elas hoje? Certamente, não são as mesmas que estão  nas  lembranças permeadas de afeto e saudade.
          Pensar em rever à terra natal veem a tona as iguarias do passado. O cheiro do alho, do torresmo,  e do  indiscreto bolo de  casca de  laranja,  cujo aroma anunciava a toda  vizinha que a mesa  do café da tarde era farta.  Não há como lutar contra a invasão dos cheiros e sabores do passado, e também  da gentileza dos anfitriões  insistindo para comer mais um pedaço porque "saco vazio não para de pé" diziam  sorrindo.
          O tempo passa para todos e nos anos de árdua luta pela sobrevivência as relações familiares são negligenciadas, e quando, finalmente, a pessoa sai do  mercado de trabalho e sem  condições financeiras para  investir em novos cursos, viagens internacionais, inevitavelmente,  desejam voltar às origens, não pela hospedagem grátis, mas porque finalmente entendem que nada é mais importante do que  as relações parentais  e afeto é necessário em todas as fases da vida; também porque o melhor lugar para o repouso  eterno do corpo cansado é o lugar onde a vida começou.


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