quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Doar é melhor que entulhar

                      Que as tecnologias  simplificam o trabalho, encurtam distâncias  não há como duvidar, porém, tudo que é bom, tem o seu lado  ruim: A matéria prima finita e o  descarte que causa  violento impacto ambiental.  Em 26 de fevereiro de 1982, uma sexta-feira, o Jornal: A folha de São Paulo, publicou uma matéria intitulada: “ Sharp Lança o primeiro videocassete doméstico”   Este  lançamento, completará singelos  36 anos e já está obsoleto, não sendo encontrados em lojas, e fitas para alugar ou comprar,  inexistem. Tornou-se peça de colecionadores. E, quando a pessoa, que mora em uma cidade pequena, cuja cultura local   é barzinhos e megafestas, possui um em bom estado de conservação, marca de qualidade,  um acervo de 50 fitas, com temática de alto nível, adequado às pessoas   possuidoras de uma cultura  refinada, decide desfazer destas relíquias? As dificuldades aparecem em questões de segundos. Vender? Quem irá comprar? Valor?  Descartada esta possibilidade  é tentar a segunda opção: doação: Quem irá receber a preciosidade? Os cabos de entrada dele,  são compatíveis  com   o da televisão do receptor? Será que é possível encontrar adaptadores? Onde? E quando, finalmente, consegue um destinatário, é hora de despedir-se daqueles objetos que tanto lhe enriqueceram culturalmente.
Para a despedir e também, atestar  a qualidade do acervo a ser doado, é necessário uma maratona de filmes; um final de semana dedicado a rever  as preciosidade, a começar pela coleção Vídeo,   de incentivo ao turismo  das principais capitais europeias. A doadora, sente um imenso prazer em rever  as belezas e curiosidades da moderna e  tradicional Amsterdã,  cidade que é uma síntese da cultura do país e   mundialmente conhecida pela capacidade de acolhimento à todas as diferenças.
             Lágrimas descem suavemente em seu rosto, ao rever a fascinante beleza de Veneza, a moradia do amor, com suas máscaras   carnavalescas e fortes gondoleiros a transportar turísticas extasiado com o romantismo que exala dos canais, da arquitetura típica. 
                A consciência de que é preciso expandir o  seu  pequeno universo , flui ao rever  a culta e histórica  Berlim, cidade ideal para enriquecimento cultural, lazer e, a  fraqueza dos turistas brasileiros: compras.
                A realização das fantasias de infância, oriunda dos livros de contas de fadas e princesas veem à tona ao rever à   austeridade da majestosa Londres, com a sua troca de guardas impecáveis, uma espetáculo que  jamais será esquecido.  A cidade exala nobreza, elegância e um desejo imenso de passear  em   seus  parques.
                Todos os caminhos levam  Roma,  ou seja, Amor, quando lida de trás para frente, já diz o ditado popular: Uma vida inteira é pouco para conhecer e amá-la.  A cidade eterna encanta  com a sua tradição, seus pormenores,  mil vezes reelaborada  e sempre fascinante; lá repousa o corpo da guerreira de dois mundos: Anita Garibaldi. Ah! Roma, como não sentir por você um amor imenso!
                Durante a maratona de filmes culturais, a pipoca fica esquecida em virtude das fortes emoções despertas pela  caliente Madri, que encanta os visitantes com suas touradas e noites alegres e festivas. Inesquecíveis!
                Mistérios e ciências  se confunde  no país das grandes pirâmides e  da majestosa e enigmática  Esfinge de Gizé. O Egito é um presente do Nilo, disse o historiador  grego,  Heródoto. Cairo! Como não reverenciar o  ancestral lar dos faraós?
                Finda   a coleção de incentivo ao turismo, inicia-se a maratona cultural com os mestres da pintura europeia a começar  com a gloria universal da   pintura espanhola, personificada na pessoa de Velázquez (1599-1660) cuja arte prima por equilíbrio e perfeição técnica.
                O gênio do autorretrato,  o pintor e gravador holandês, Mestre Rembrandt (1606- 1669),  com um estilo artístico pessoal, fugiu sempre das  aparências  das coisas. Fascinante fatura!
                Que olhos humanos podem resistir a claridade da composição das obras de Vermeer
( 1632-1675) sem se encantar? Considerada por vários críticos como   as  mais seletas da  história da arte. É preciso ver para crer, no que um artista com apenas  pincéis e tinta é capaz de fazer!
                  Ele  legou à posteridade, um trabalho impecável, oriundos de sua grandeza técnica   e dotes artesanias aplicados  às suas  pinturas. É admirável como ele conseguiu  descobrir em suas obras o significado e qualidade oculta das coisas.
                Há quem diga que o  polímata Leonardo d’Vinci (14502- 1519) é a  pessoa dotada de  diversos talentos   de  todos os tempos e um pintor incomparável. Legou  à posteridade  as raízes de grandes  invenções  do futuro através de seus  esboços e anotações em escrita reversa,  com destaque para os  desenhos  de   engrenagens  par mergulho submarino, ponte giratória, planador com asas,  canhão de três canos,  parafuso voador,  a cidade ideal,  datação geológica,  o homem vitruviano,  e também, a sua obra mais conhecida : A célebre Mona Lisa. Segundo D’Vinci, suas mãos não  atendiam a agilidade de seu cérebro.
                Durante  a maratona, uma pausa para  a reflexão, a partir da obra do   mestre do grotesco, precursor do expressionismo e surrealismo,  Bosch ( 1450- 1516), cujas obras  parecem janelas abertas ao inferno, e mostra de maneira cômica, a luta  interna do homem, contra os seus demônios.
                O encanto e  a  saudade do campo,  são   despertadas quando aprecia  a obra do mestre Brueghel ( 1525 – 1569).  Seus pincéis  revelam o cotidiano dos camponeses do século XVI, percebe-se claramente o carinho dedicado à aqueles que enfrentam chuva e sol, na labuta diária, e graças a esta dedicação, a comida chega farta à mesa dos cidadinos.
                Após beber na fonte dos gênios da pintura ocidental, a doadora mergulha nas técnicas artísticas, ensinadas por  uma renomada escola de  arte italiana e revê as técnicas de pastel, aquarela e grafite e  faz uma viagem virtual pela Terra Paulista, na região do Vale Médio do Tietê e  Vale do Paraíba,   se emociona com  as tradições da Semana Santa, Romaria de Bom Jesus de Pirapora e muito  mais e, para relembrar os primeiros tempos no magistério, revê aquelas fitas, que no início da carreira, inexperiente, sozinha,  deram-lhe boas diretrizes para seguir em frente.
                Seu coração solitário é invadido por uma saudade imensa da mais paulista de todas as avenidas,  a Av. Paulista, onde  se encontra o maior museus da América Latina, o MASP, ao rever a fita História da Arte – a  partir do acervo do Masp- Idade Média e Renascimento na Itália  e  a outra, que conta a história do Masp, museu fruto da determinação do   empresário Assis chateaubriand, do conhecimento de Pietro Bardi e do pioneirismo  da arquiteta Lina Bo Bardi. Belos tempos em que visitava a Instituição e  desfrutava da agitada av. que não é Minas Gerais, mas quem a conhece, não esquece  jamais.
                As últimas horas da maratona são dedicadas a reflexões sérias sobre a inclusão educacional, a partir dos documentários:
1-      Arte educação- inclusão- possibilidades estéticas na diferença;
2-      Aberturado ano Ibero- Americano das pessoas com deficiência.
Para encerrar, assiste à fita que lhe acompanhou durante décadas, que assistiu inúmeros vezes, e, em todas elas, lágrimas  desciam silenciosas de seus olhos  com a comovente história de amor entre um menino e sua cadela.  O filme: Lassie, com direção de Fred M. Wilcox, é capaz de comover o mais duro dos corações e vale a pena assisti-lo, nem que seja a única coisa poética,  que se faça na vida.
          Após rever todas as fitas,   sabendo que nunca mais beberá nesta fonte, a doadora não está triste, porque entregou  o seu pequeno tesouro a um senhor, um trabalhador rural, cujo sonho de infância era ter um videocassete, e por questões financeira, nunca conseguiu a aquisição. Quanto às fitas, foram destinadas à   sua filha, recém-formada   portanto, debutante, no magistério;  Apenas reflete tristemente, que teve um tesouro em mãos, e não conseguiu fazer  bom uso dele em sala de aula, em prol da ampliação do universo cultural dos educandos; quiçá a recebedora seja mais bem sucedida que eu, suspira tristemente, e com o coração repleto de alegria entrega  a sua riqueza e surpresa! A gratidão tipicamente caipira:  Recebe do destinatário, dúzias do fruto que representa a riqueza do cerrado- pequi.  

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