segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Ipês amarelos e outras formas de resistência

 


Setembro começou mais fresco, como quem abre a janela devagar para não assustar a primavera que ainda espreguiça. O céu, meio encoberto, parecia indeciso — talvez se perguntando se vale a pena mesmo dar espaço para flores em tempos de tanta secura.

E, no entanto, ali estavam eles: os ipês amarelos. Em plena estiagem de mais de dois meses, florescem com insolência, como quem não lê manchetes nem boletins de meteorologia. Enquanto a grama murcha, eles vestem gala.

A cena é gratuita, democrática e, convenhamos, quase debochada. O cidadão sai para pagar contas — esse esporte nacional sem medalha — e dá de cara com um espetáculo que não pediu, não esperava e, ainda assim, melhora o dia. É como se a natureza, em um raro gesto de generosidade, oferecesse desconto à vista: paga-se em admiração, leva-se esperança no troco.

Os polinizadores agradecem a fartura, e as almas cansadas das desilusões cotidianas também. Basta levantar os olhos e encontrar uma copa dourada para lembrar que há formas discretas de renascer. Os ipês, afinal, não se dão ao trabalho de lamentar a seca. Eles florescem — e pronto.

Talvez esteja aí a maior lição que o calendário nos entrega sem protocolo oficial: em tempos de escassez, sempre haverá uma árvore lembrando que resistir, às vezes, é simplesmente florescer quando ninguém espera.