Setembro começou mais fresco, como quem abre a
janela devagar para não assustar a primavera que ainda espreguiça. O céu, meio
encoberto, parecia indeciso — talvez se perguntando se vale a pena mesmo dar
espaço para flores em tempos de tanta secura.
E, no entanto, ali estavam eles: os ipês amarelos.
Em plena estiagem de mais de dois meses, florescem com insolência, como quem
não lê manchetes nem boletins de meteorologia. Enquanto a grama murcha, eles
vestem gala.
A cena é gratuita, democrática e, convenhamos,
quase debochada. O cidadão sai para pagar contas — esse esporte nacional sem
medalha — e dá de cara com um espetáculo que não pediu, não esperava e, ainda
assim, melhora o dia. É como se a natureza, em um raro gesto de generosidade,
oferecesse desconto à vista: paga-se em admiração, leva-se esperança no troco.
Os polinizadores agradecem a fartura, e as almas
cansadas das desilusões cotidianas também. Basta levantar os olhos e encontrar
uma copa dourada para lembrar que há formas discretas de renascer. Os ipês,
afinal, não se dão ao trabalho de lamentar a seca. Eles florescem — e pronto.
Talvez esteja aí a maior lição que o calendário nos
entrega sem protocolo oficial: em tempos de escassez, sempre haverá uma árvore
lembrando que resistir, às vezes, é simplesmente florescer quando ninguém
espera.