quarta-feira, 24 de setembro de 2025

O Mistério das Penas na Piscina

 

O preço da água subiu como foguete em dia de lançamento. E junto com a taxa de esgoto, consome quase todo o salário do mês — como um hóspede indesejado que chega, se instala e ainda exige jantar. A manutenção da casa virou um luxo: trabalho, dinheiro e tempo livre jogados ao vento, literalmente. Foi então que tomei uma decisão drástica, porém sensata: esvaziei a piscina.

Adeus preocupações com dengue, zika e companhia. A água se foi, e com ela, a paz de espírito. Parti para uma viagem merecida, longe das contas e das larvas. Quando voltei, a piscina estava lá, seca como prometido, com uma leve garoa que não ameaçava encher nada. Evaporação, pensei. Tudo sob controle.

Mas eis que surge o mistério.

Ao me aproximar, vi algo que me fez parar: penas. Muitas penas. Penas de galinha, grudadas no fundo da piscina como se tivessem sido coladas por um artista macabro. Sem ossos, sem sangue, sem bico, sem unhas. Apenas penas. E poeira. Poeira que se aliou às penas e formou uma crosta tão resistente que precisei de uma enxada para raspar.

E agora, caro leitor, começa o enigma.

Não tenho criação de galinhas. Os vizinhos também não. Então, de onde vieram aquelas penas?

A primeira suspeita: minha irmã. Dona de um temperamento que mistura inveja com vingança, talvez tenha se irritado por não mais desfrutar de um bem que nunca lhe pertenceu — e que jamais ajudou a manter. Seu lema é claro: você trabalha, paga, e eu desfruto. Teria ela jogado penas como forma de protesto passivo-agressivo?

Segunda hipótese: um animal. Escorraçado de algum galinheiro, encontrou na piscina um refúgio para sua última refeição. Mas a ausência de ossos, bico e unhas me intriga. Teria sido uma galinha fantasma?

Por fim, a teoria mais esotérica: algum charlatão, desses que prometem milagres em troca de ingredientes estranhos, pediu a uma alma desesperada penas de galinha para um ritual. E, sem cerimônia, despejou tudo ali, como se a piscina fosse altar.

E você, leitor atento e curioso: o que acredita que aconteceu? Teria sido vingança, feitiçaria ou apenas uma galinha sem rumo e sem corpo?

A piscina continua seca. Mas o mistério, esse, está longe de evaporar.

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Terça-feira de Alerta e Desconfiança

 

Na noite da última terça-feira, 9 de setembro de 2025, uma moradora de um bairro residencial viveu momentos de tensão e inquietação ao se deparar com uma sequência de situações incomuns que levantaram suspeitas sobre sua segurança.

Por volta das 22h30, ao descer para descartar o lixo, a mulher avistou um homem parado na calçada, parcialmente oculto pela sombra de uma árvore. Sem dar muita atenção à figura, concentrou-se na paisagem iluminada pela lua. No instante em que retornava ao prédio, foi abordada por um motociclista que havia acabado de estacionar. Após retirar o capacete, o homem se aproximou e fez um alerta direto:

“Você conhece aquele homem? Ele está lhe vigiando. Tome cuidado. Hoje as coisas estão muito perigosas.”

Surpresa com a abordagem, a moradora agradeceu e confirmou que já havia sentido algo estranho, o que a fez entrar rapidamente no prédio. Após trancar o portão e a porta de seu apartamento, enviou um áudio à irmã, com quem havia combinado uma visita à casa da família na periferia — imóvel que permanece fechado e precisa ser monitorado para evitar invasões.

No dia seguinte, a irmã não apareceu conforme o combinado. À noite, ao confrontá-la, ouviu como resposta um simples “eu esqueci”, seguido da informação de que ela teria ido até o local, mas não chegou a entrar. A moradora, preocupada com sua segurança e refletindo sobre sua condição de solteira e sem herdeiros diretos, ironizou: “Pelo visto, vou ter que fazer meu testamento antes do previsto.”

Na quarta-feira, no mesmo horário da noite anterior, ela voltou a descer para colocar o lixo. Desta vez, encontrou um jovem sentado na calçada em frente ao prédio. Após depositar o lixo na lixeira e subir rapidamente, observou pela janela que o rapaz havia desaparecido. A coincidência a deixou ainda mais apreensiva.

A situação foi compartilhada com outra irmã, que reagiu com preocupação e alertou para um padrão comum em crimes urbanos:

“Os malfeitores costumam observar as vítimas em potencial por meses antes de cometerem o delito.”

Reflexão e Alerta

O episódio levanta questões sobre segurança em áreas residenciais sem sistemas de interfone ou vigilância, além de destacar a importância da rede de apoio familiar em momentos de vulnerabilidade. A moradora segue atenta, enquanto reflete sobre os riscos e a necessidade de medidas preventivas diante de comportamentos suspeitos.

 

domingo, 7 de setembro de 2025

Desfile cívico em 7 de Setembro de 2025 expõe crianças ao sol escaldante e ao descaso institucional

 


— O que deveria ser uma celebração do civismo e da independência nacional se transformou, neste domingo, em um retrato preocupante da negligência e da espetacularização infantil. O desfile cívico realizado na principal avenida da cidade expôs crianças — inclusive de creche — a condições insalubres, sob o sol forte da manhã, em um asfalto cuja temperatura ultrapassava os 35 °C.

A reportagem esteve presente e constatou que, enquanto autoridades discursavam por mais de 45 minutos em um palanque coberto e abastecido com água, crianças aguardavam em formação, muitas delas descalças, representando povos originários e transplantados. A cena, que deveria evocar respeito à diversidade cultural, acabou revelando um cenário de sofrimento físico e desatenção institucional.

Pais como espectadores e cinegrafistas

O comportamento dos pais também chamou atenção. Muitos invadiram o espaço reservado às escolas para filmar e fotografar seus filhos, ignorando protocolos e o próprio sentido do evento. O civismo deu lugar à vaidade digital, como se o único propósito fosse alimentar redes sociais com imagens da “cria”, em detrimento da segurança e do bem-estar dos pequenos.

 Educadores calçados, crianças descalças

Professores e organizadores, por sua vez, pareciam mais preocupados em exibir o resultado de seus ensaios do que em garantir condições adequadas para os participantes. Enquanto os adultos estavam devidamente calçados, as crianças marchavam sobre o asfalto quente, em trajes simbólicos, mas sem qualquer proteção para os pés — uma escolha pedagógica difícil de justificar.

 Autoridades em conforto, crianças em sofrimento

No palanque, autoridades locais discursavam longamente, ignorando o tempo excessivo de espera imposto aos jovens participantes. Em vez de uma cerimônia breve e simbólica — com agradecimentos, execução dos hinos e início imediato do desfile — o evento se arrastou, submetendo os menores a mais de duas horas sob calor intenso.

 Reflexão e responsabilidade

A pergunta que fica é: qual a mensagem que se pretende transmitir às novas gerações? Que o patriotismo se mede pelo sofrimento físico? Que o civismo é um espetáculo para adultos, enquanto crianças são figurantes descartáveis?

A denúncia está feita. Cabe agora à Secretaria Municipal de Educação avaliar os excessos e rever protocolos. O desfile cívico não pode ser palco de negligência. Se fossem seus filhos, descalços sob o sol, você aceitaria?

 

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Ipês amarelos e outras formas de resistência

 


Setembro começou mais fresco, como quem abre a janela devagar para não assustar a primavera que ainda espreguiça. O céu, meio encoberto, parecia indeciso — talvez se perguntando se vale a pena mesmo dar espaço para flores em tempos de tanta secura.

E, no entanto, ali estavam eles: os ipês amarelos. Em plena estiagem de mais de dois meses, florescem com insolência, como quem não lê manchetes nem boletins de meteorologia. Enquanto a grama murcha, eles vestem gala.

A cena é gratuita, democrática e, convenhamos, quase debochada. O cidadão sai para pagar contas — esse esporte nacional sem medalha — e dá de cara com um espetáculo que não pediu, não esperava e, ainda assim, melhora o dia. É como se a natureza, em um raro gesto de generosidade, oferecesse desconto à vista: paga-se em admiração, leva-se esperança no troco.

Os polinizadores agradecem a fartura, e as almas cansadas das desilusões cotidianas também. Basta levantar os olhos e encontrar uma copa dourada para lembrar que há formas discretas de renascer. Os ipês, afinal, não se dão ao trabalho de lamentar a seca. Eles florescem — e pronto.

Talvez esteja aí a maior lição que o calendário nos entrega sem protocolo oficial: em tempos de escassez, sempre haverá uma árvore lembrando que resistir, às vezes, é simplesmente florescer quando ninguém espera.