domingo, 13 de abril de 2025

A Solidão do Coração Generoso



Era uma manhã de domingo, e ela, já não senhora de sua própria vida, caminhava por entre as sombras de suas próprias expectativas. Por mais que tentasse, com fervor, direcionar seu olhar para as necessidades que pulsavam dentro de si, a balança do dar e receber permanecia desiquilibrada. Continuava a oferecer-se, a se desdobrar em mil favores, sem que seu esforço fosse reconhecido.

Naquela manhã, a única ação que se permitira em nome de seu próprio desejo fora a ida à procissão de ramos, onde nutria a esperança de encontrar um homem de Deus, alguém que pudesse compartilhar de sua jornada. Contudo, entre os poucos que compareceram, os homens se dividiam em dois grupos: os casados, que levavam consigo o peso de promessas feitas, e os jovens demais, que ainda não conheciam o amor em sua plenitude.

Após a procissão, o resto da manhã se esvaiu em favores alheios. Dirigiu-se à casa de uma conhecida que viajara, para cuidar dos cachorros que, com olhares tristes, aguardavam por carinho. Em seguida, foi ao apartamento de outra amiga, onde alimentou o periquito que, em sua gaiola, piava como se também sentisse a solidão da dona. E, por fim, ainda teve tempo de verificar se a poda da árvore seca no quintal de seu irmão fora realizada. Ele, que morava em outra cidade, deixara a casa fechada, e ela, com um olhar atento, observava tudo sem receber nada em troca.

Quando o relógio anunciou a hora do almoço, ela se dirigiu à cozinha, enquanto os outros se divertiam, alheios à sua dor silenciosa. Assim, a solidão a envolvia como um manto pesado, e seu coração generoso, que tanto se entregava, permanecia à mercê da indiferença.

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