Ontem foi um dia especial porque eu tive a verdadeira dimensão de quem foi a minha mãe e as marcas que ela deixou em inúmeras pessoas com ações simples. Às vezes, deixamos de ajudar as pessoas porque acreditamos que o que temos a oferecer é pouco, porém, para o ajudado, naquele momento representa muito. São tantas atitudes que eu poderia contar aqui, porém, focarei minha atenção em uma visita que fiz ao Sr Zezé, durante sua permanência no hospital, tratando de uma trombose venosa, quando tive o prazer de encontrar com o seu afilhado, Vitor, conhecido como o Vitinho da lavandeira.
Vitinho
nasceu em uma família
literalmente pobre, e pobre em dobro, de dinheiro e inteligência, uma vez que possuíam
um pouco de terra, porém, não tinham a iniciativa de plantar. Ficou órfão de pai
aos sete anos de idade, dois anos após a morte do esposo, a mãe de Vitinho faleceu repentinamente e ele ficou aos
cuidados dos irmãos mais velhos, todos menores de 18 anos, vivendo como podiam.
E nesta época, minha genitora, tomou a iniciativa comum a toda mulher católica praticante, se fez
presente na vida deles, como podia, ofereceu amor de mãe, colo, conselhos, muitas orações e o mais importante:
o uso das mãos para ganhar o pão de cada
dia.
Em nosso encontro, Vitinho relatou que
tem viva em sua memória, o rosto de minha mãe, já falecida a mais de trinta
anos, a lembrança de seu colo macio, no
qual deitou várias vezes, em momentos de
carência, de suas panquecas e também, da preocupação dela, em ir à casa deles, levar leite, carnes e demais
produtos oriundos de suas colheitas no pomar e na horta. Entre as doces lembranças do cuidado que recebeu, em sua infância e
adolescência, ressaltou que somente a minha família prestou auxílio aos órfãos,
os demais vizinhos, quando eles iam lá, pedir um litro de leite, eram convidados a se retirarem e não poupavam
palavras ofensivas. Um litro de leite, um pedaço de carne, uma penca de banana,
representava pouco para meus pais, mas para ele era exatamente o que precisava
naquele momento de carestia.
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