domingo, 5 de novembro de 2023

Minha mãe, pelo olhar de um orfão

               Ontem foi um dia especial porque eu tive a verdadeira dimensão de quem foi a minha mãe e as marcas que ela deixou em  inúmeras pessoas com ações simples. Às vezes, deixamos de ajudar as pessoas porque acreditamos que o que temos a oferecer  é  pouco, porém, para o ajudado, naquele momento  representa muito. São tantas atitudes que  eu poderia contar aqui, porém, focarei minha atenção em uma visita que fiz ao Sr Zezé, durante sua permanência  no hospital, tratando de uma trombose venosa, quando tive o prazer de encontrar com o seu afilhado, Vitor, conhecido como o Vitinho da lavandeira.

        Vitinho  nasceu  em uma família literalmente pobre, e pobre em dobro, de dinheiro e inteligência, uma vez que possuíam um pouco de terra, porém, não tinham a iniciativa de plantar. Ficou órfão de pai aos sete anos de idade, dois anos após a morte do esposo, a mãe de Vitinho  faleceu repentinamente e ele ficou aos cuidados dos irmãos mais velhos, todos menores de 18 anos, vivendo como podiam. E nesta época,  minha genitora,   tomou a iniciativa comum a  toda mulher católica praticante, se fez presente na vida deles, como podia, ofereceu amor de mãe,  colo, conselhos, muitas orações e o mais importante: o uso das mãos para  ganhar o pão de cada dia.

        Em nosso encontro, Vitinho relatou que tem viva em sua memória, o rosto de minha mãe, já falecida a mais de trinta anos,  a lembrança de seu colo macio, no qual deitou várias vezes,  em momentos de carência, de suas panquecas e também, da preocupação dela, em  ir à casa deles, levar leite, carnes e demais produtos oriundos de suas colheitas no pomar e na horta.  Entre as doces lembranças  do cuidado que recebeu, em sua infância e adolescência, ressaltou que somente a minha família prestou auxílio aos órfãos, os demais vizinhos, quando eles iam lá, pedir um litro de leite, eram  convidados a se retirarem e não poupavam palavras ofensivas. Um litro de leite, um pedaço de carne, uma penca de banana, representava pouco para meus pais, mas para ele era exatamente o que precisava naquele momento de carestia.

       

                  

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