quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Aventura em dia de vacinação

        As amigas octogenárias  Sara e Elif, foram juntas tomar   a primeira  dose da vacina  de Covid-19. Optaram pelo horário das  oito horas da manhã, queriam ser as primeiras a chegar, porém, todos os idosos pensaram a mesma coisa e encontrar um local para estacionar  não foi fácil. Tiveram que  utilizar o estacionamento de uma loja e não  notaram um rapaz sentado na porta do estabelecimento, com uma faca na mão. Desceram com a  dificuldade inerente à idade e só então perceberam o perigo a que estavam expostas e com  uma calma aparente que só o medo extremo é capaz de proporcionar,  Elif cumprimentou o  jovem e pediu-lhe   olhasse o veículo, pois na volta, lhe dariam “um trocado”.

          Esperaram na fila, aproximadamente  uma hora, e já  imunizadas, precisavam retornar ao estacionamento. Elif sugeriu que  Sara fosse  buscar o veiculo, e ela esperaria em frente ao  polo de vacinação,  si em 15  minutos ela não regressasse, chamaria a  Polícia.  Nada do que as  anciãs temiam aconteceu e felizes, retornaram ao condomínio  em que residiam confiantes que estavam  mais protegidas. A noite foi difícil para Sara. Dor no peito e no braço, não a permitiu dormir, mas como já  sofrera dois infartos, optou por não pedir socorro com medo de ser levada ao  hospital e contrair Covid-19, não queria correr o risco de   ficar entubada a mercê de tratamento experimental, e menos ainda, ser enterrada em caixão lacrado, sem a presença dos parentes   a lamentar a sua passagem, Elif,  sentiu dor no braço, cansaço e nada mais.

          Assustada com a experiência  do estacionamento,   no dia da segunda dose, Sara  escolheu outro  polo de vacinação, e desta vez, iria às doze horas, comércio aberto, mais fácil para pedir ajuda em caso de  outro encontro inesperado. Elif  aplaudiu  a  decisão da amiga. Foram obrigadas a estacionar na rua, a uns três quarteirões do local. Caminhavam felizes, observando  os jardins das casas quando Elif notou que Sara estava sem a máscara,  que provavelmente ficara no carro.  Retornaram sem pressa, e  quando estavam a  uns 20 metros do veículo, foram abordadas por uma simpática senhora que  indagou se elas  estavam procurando a chave do carro e antes mesmo que as perplexas senhoras respondessem que não, entregou-lhes o  chaveiro  e seguiu o seu  caminho sem  esperar  o agradecimento.

- Proteção divina!  Retornamos  pela máscara e encontramos a chave perdida, sem mesmo dar-nos conta que a havia perdido.  Exclamou Elif.

- Meu anjo da guarda nem piscou hoje, o que faríamos distantes de casa, sem dinheiro e cartão?  Realmente foi a  divina providência! Aleluia! Exclamou Sara.  Talvez pelo  horário, não enfrentaram  fila e na volta para casa, ultrapassaram a velocidade permitida; foram paradas, repreendidas e multadas por um guarda de trânsito, que as aconselhou a  utilizarem os serviços de táxi, era mais seguro para elas, para  os pedestres e  outros motoristas.

          Ao contrário de Sara, que na  2ª dose, nada sentiu, Elif  teve várias reações à vacina: cansaço, calafrio, enjoo, tosse, dor de garganta e febre de 38º, sofreu sozinha, durante dois dias.  Ao responder as mensagens da amiga, negava  com veemência  qualquer mal estar com medo de ser levada ao hospital e  receber um falso diagnóstico de Covid-19 e   tratamento inadequado  que a levaria a óbito. – É preferível uma morte solitária a ser lembrada pelos descendentes como a parente que  faleceu de Covid-19, durante a pandemia do coronavírus, nos anos de 2020/2021, suspirava resignada.

          Já protegidas com as duas doses, mas com receio de serem contaminadas por uma nova variante resistente à vacina, ambas  continuam usando máscaras e seguindo o protocolo recomendado pelo Ministério da Saúde. Elif não cansa de repetir: - A morte é a única certeza que tenho nesta vida, gosto de viver e não tenho pressa de partir. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário