As amigas octogenárias Sara e Elif, foram juntas tomar a primeira dose da vacina de Covid-19. Optaram pelo horário das oito horas da manhã, queriam ser as primeiras a chegar, porém, todos os idosos pensaram a mesma coisa e encontrar um local para estacionar não foi fácil. Tiveram que utilizar o estacionamento de uma loja e não notaram um rapaz sentado na porta do estabelecimento, com uma faca na mão. Desceram com a dificuldade inerente à idade e só então perceberam o perigo a que estavam expostas e com uma calma aparente que só o medo extremo é capaz de proporcionar, Elif cumprimentou o jovem e pediu-lhe olhasse o veículo, pois na volta, lhe dariam “um trocado”.
Esperaram na fila,
aproximadamente uma hora, e já imunizadas, precisavam retornar ao
estacionamento. Elif sugeriu que Sara
fosse buscar o veiculo, e ela esperaria
em frente ao polo de vacinação, si em 15
minutos ela não regressasse, chamaria a
Polícia. Nada do que as anciãs temiam aconteceu e felizes, retornaram
ao condomínio em que residiam confiantes
que estavam mais protegidas. A noite foi
difícil para Sara. Dor no peito e no braço, não a permitiu dormir, mas como
já sofrera dois infartos, optou por não
pedir socorro com medo de ser levada ao
hospital e contrair Covid-19, não queria correr o risco de ficar entubada a mercê de tratamento
experimental, e menos ainda, ser enterrada em caixão lacrado, sem a presença
dos parentes a lamentar a sua passagem,
Elif, sentiu dor no braço, cansaço e
nada mais.
Assustada com a experiência do estacionamento, no dia da segunda dose, Sara escolheu outro polo de vacinação, e desta vez, iria às doze
horas, comércio aberto, mais fácil para pedir ajuda em caso de outro encontro inesperado. Elif aplaudiu
a decisão da amiga. Foram
obrigadas a estacionar na rua, a uns três quarteirões do local. Caminhavam
felizes, observando os jardins das casas
quando Elif notou que Sara estava sem a máscara, que provavelmente ficara no carro. Retornaram sem pressa, e quando estavam a uns
-
Proteção divina! Retornamos pela máscara e encontramos a chave perdida,
sem mesmo dar-nos conta que a havia perdido.
Exclamou Elif.
-
Meu anjo da guarda nem piscou hoje, o que faríamos distantes de casa, sem dinheiro
e cartão? Realmente foi a divina providência! Aleluia! Exclamou Sara. Talvez pelo
horário, não enfrentaram fila e
na volta para casa, ultrapassaram a velocidade permitida; foram paradas,
repreendidas e multadas por um guarda de trânsito, que as aconselhou a utilizarem os serviços de táxi, era mais
seguro para elas, para os pedestres
e outros motoristas.
Ao contrário de Sara, que na 2ª dose, nada sentiu, Elif teve várias reações à vacina: cansaço,
calafrio, enjoo, tosse, dor de garganta e febre de 38º, sofreu sozinha, durante
dois dias. Ao responder as mensagens da
amiga, negava com veemência qualquer mal estar com medo de ser levada ao
hospital e receber um falso diagnóstico
de Covid-19 e tratamento
inadequado que a levaria a óbito. – É
preferível uma morte solitária a ser lembrada pelos descendentes como a parente
que faleceu de Covid-19, durante a
pandemia do coronavírus, nos anos de 2020/2021, suspirava resignada.
Já protegidas com as duas doses, mas com
receio de serem contaminadas por uma nova variante resistente à vacina, ambas continuam usando máscaras e seguindo o
protocolo recomendado pelo Ministério da Saúde. Elif não cansa de repetir: - A
morte é a única certeza que tenho nesta vida, gosto de viver e não tenho pressa
de partir.
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