quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Amiga esquisita

                     

          Ao ser concebida, a criança inicia o seu longo processo de dependência do outro.  Ela depende da mãe para  alimentar-se  e desenvolver  perfeita e com saúde. Tudo que necessita a  progenitora lhe fornece  durante a gestação. Ao nascer, ainda precisa dos  cuidados maternos para tudo e, na adolescência, em  ímpetos  de rebeldia, quando se acredita ser autossuficiente,  e aos gritos, diz aos progenitores que não precisa deles para nada, nunca esteve tão enganada!  Viver só é possível porque existe o  próximo e o distante, que, mesmo indiretamente é tão  necessário quanto à família, os amigos e os vizinhos. Exemplo: Para agasalhar o  corpo, precisa-se do trabalhador rural que plantou, cuidou, colheu e armazenou o algodão.  Dos funcionários dos transportes, das indústrias de tecelagem, fábrica  de costura, lojas de varejo para que o produto chegue até o consumidor, que, para adquiri-lo, precisa de dinheiro, oriundo do seu trabalho, que para executá-lo,  é necessário que haja outra rede de pessoas e produtos, assim, viver é depender do outro,  do nascer ao morrer!!!
          A jovem, que não percebeu que  o ciclo de dependência mútua é real e não fortaleceu laços familiares e de amizade, quando a velhice vai chegando de mansinho, se vê obrigada  a conviver com a  estranheza das poucas pessoas que permaneceram ao seu  lado e são de extrema importância para auxiliá-los  em suas dificuldades típicas da última etapa da vida, quando  os cincos sentidos vitais já estão desgastados. É a fase  do agradecimento! Agradecer a única amiga que a recebe em seu lar e, em média, uma vez por ano, aparece para visitá-la, simplesmente para bater um papo porque os outros encontros são para   acompanhá-la  ao oftalmologista, ao exame de endoscopia e demais     perrengues da idade.   As visitas sempre são traumáticas! As esquisitices da idade! Ela chega de mala e cuia. Com a sua roupa de cama, comida e até água. É uma situação constrangedora para a anfitriã, parece que a hóspede tem nojo de sua casa e suas coisas, mas não  há nada que se possa fazer; em momentos de dificuldades, o orgulho é deixado de lado e os lábios somente conseguem pronunciar um sonoro obrigada!
          Há um ditado popular que diz que:  Colhe-se o que planta. Nada mais verdadeiro! Quem  não semeou companheirismo e fidelidade, manteve bom  relacionamento com os  familiares e amigos  na juventude, invariavelmente, no  final de sua jornada terrena, irá colher solidão e dificuldades para enfrentar as mazelas da velhice e, na impossibilidade de  voltar no tempo e corrigir os erros, somente resta ruminá-los, já que não tem ao seu lado, jovens a quem possa orientar e as lágrimas são doravante, suas fiéis  companheiras.
         

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