Os cabelos de João Francisco eram ruivos e brilhavam como
raios de sol. Tinha olhos verdes e faces
rosadas. as pessoas eram unânimes ao dizer, ser ele, o
menino mais bonito da cidade, mas ele não ficava vaidoso. Estava acostumando
com a beleza, porque morava em uma
mansão, com um jardim mais belo que os
da Babilônia, construídos por Nabucodonosor.
Além de belo, era também rico e inteligente. Segundo diziam os funcionários que trabalhavam para a família:
uma criança especial, humilde e
amorosa, não tinha em seu vocabulário
nem em seu coração palavras como discriminação, rancor, vingança. Nas palavras
da babá – Mais parece um anjo que habita entre nós, tamanha é a bondade de sua alma jovem.
Tradicionalmente
presenteia-se as crianças, mesmo as
milionárias como João Francisco. E um
tio, voltando de uma excursão, trouxe-lhe um presente inusitado: Um estilingue.
O presente causou revolta
nos funcionários da mansão. – Tio avarento assim é melhor não ter.
Presentear uma criança como a nossa, com estilingue, francamente! – dizia revoltado
o jardineiro.
O
presenteado transbordava de alegria! Acostumado
com a tecnologia de ponta, este foi o melhor presente que ganhou em toda
a sua vida. A única coisa que lhe deixava insatisfeito e intrigado, é que, pela
primeira vez, os filhos dos funcionários mão mostram entusiasmo para brincar com ele. Como desconhecia o funcionamento do estilingue só lhe
restava observá-lo, já que não veio com o manual de instruções,
não tinha pilha nem bateria. O tio não tivera tempo de brincar com ele, seus
pais se encontravam em uma longa viagem de negócios. O que fazer? Como
desvendar o mistério do brinquedo?
João
Francisco lembrou do seu bisavô, um veterano de guerra, ele sim, não conheceria
o brinquedo, como também brincaria com ele. Pediu ao motorista para leva-lo à casa do
patriarca da família. Impossível saber quem estava mais feliz: O garoto que aprendera a usar o estilingue ou o
ancião, que esquecendo o peso dos anos revivia a sua infância. Bom tempos
aqueles! O alvo, não poderia ser outra coisa, senão os troféus que o
bisavô recebera ao longo de sua carreira militar e esportiva. O menino não só
aprendeu rápido, como também tinha excelente pontaria. – Honra o sangue dos Vieiras que corre em suas veias ! – dizia cheia de orgulho, o bisavô.
João
Francisco passava horas no jardim brincando, usava como alvo os bibelôs de bronze, esculturas dos jardins. Retornando de
viagem, o primogênito do jardineiro, um
adolescente uns sete mais velho que ele disse: Rapaz, estilingue não é brinquedo, é uma arma. Serve para caçar
passarinhos, coelhos e outros pequenos animais. Usar um estilingue para acertar
um pássaro de bronze, é ridículo.
Tanto
falou das emoções da caça, que convenceu João Francisco, a escolher um alvo vivo. Qualquer um dos
pombos do jardim, são tantos que ninguém notará, disse o filho do jardineiro. Fez uma demonstração, tinha
uma péssima pontaria e não acertou. – Agora é sua vez. É fácil, coragem! Mire a
cabeça e não erre, como eu.
Estranho
o que ele sentia diante de sua vítima. Um sentimento desconhecido, porém,
angustiante: _ Eu o matei por diversão, por prazer. Que direito tenho eu de
tirar uma vida? Dizia consigo. Por muito tempo ficou parado olhando a natureza
a sua volta. A grama verde, as árvores, flores, as borboleta e os pássaros. Um
louva – a – deus pousa em sua mão. Olhando-o João Francisco teve consciência
que havida cometido um crime
ambiental. Pela primeira vez
sentiu remorso. Novamente, olha a cabeça
despedaçada do pombo. Pela primeira vez, lágrimas brotaram
em seus olhos verdes, seu coração
parecia pequeno para abrigar tanta dor.
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