domingo, 26 de fevereiro de 2017

Velório

          Para aqueles, que  não acreditam piamente na famosa frase do pai da química  moderna, Antoine Lavoisier  “ Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”; a morte é a única  certeza que o ser humano tem. A maneira de lidar com a perda,  o funeral e o luto  varia de acordo com a crença de cada povo, desde o simples enterro em cova rasa, envolto em uma mortalha simples até a sofisticados processos de mumificação e a inusitada técnica de plastinação criada pelo artista e cientista  alemão Gunther Von Hagens, em 1977. Para submeter a este procedimento, os corpos tem que ser doados em vida e com a especificação, se para fins de estudos ou artísticos. Mesmo com as regras bem claras, a plastinação ainda levanta calorosos debates religiosos, éticos, morais e legais.
          Embora a morte seja um processo natural, existem pessoas que não são capazes de chegar perto de um  caixão, e, quando são obrigadas, por dever moral e política da boa vizinhança,  fazem uma visita rápida, cumprimentam os parentes expressam os seus  mais profundos sentimentos de pêsames e correm para casa, tomam banho da cabeça aos pés e a roupa, direta para a máquina de lavar, como se estivesse lavando a morte de sua  vida e, por várias noites, dormem com a luz acessa, com medo da aparição do falecido. Enquanto uns se apavoram em velórios, para outros, é como um passeio, um momento oportuno para rever os parentes e amigos, fazer novas amizades e atualizar-se dos últimos acontecimentos da vida de todos, já que as informações oriundas das redes sociais são superficiais e no corre e corre do dia-a-dia e alto custo de transportes, não é possível visitas rotineiras, como antigamente.

          Tatiana faz parte do rol das pessoas que tem paúra de velório e costuma dizer que somente irá ao seu enterro, já que, como personagem principal, não poderá faltar. Mas os caminhos da vida, nem sempre são os que a pessoa traça e, às vezes, é necessário fazer uma curva inesperada e dolorosa. Foi o que aconteceu!  Com o falecimento da irmã, do Seu Juca, seu vizinho, a quem devia inúmeros favores, foi obrigada a vencer o medo e  prestar solidariedade à família enlutada. Foi uma experiência dramática! E não é necessário dizer que até hoje está hospedada na casa de uma amiga, já que não tem coragem de ficar sozinha à noite.

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