Fui
aluna de Marília durante os dois últimos anos de faculdade e,
como morávamos mesmo bairro, retornávamos juntas,
de Metrô, para casa, pois sempre foi perigoso paras mulheres sozinhas
circularem à noite, antes, por medo dos animais silvestres noturnos e hoje, por temor a própria espécie,
que ao contrários dos outros mamíferos/carnívoros, que atacam
somente quando acuados e para matar a fome, o bicho/homem ataca, com requinte
de crueldade, apenas pelo prazer de ver o medo estampado no rosto da vítima. A
relação mestra/aluna evoluiu para sincera e longa amizade.
Marília chegou aos 80 anos com boa saúde
física, porém, o que é característica dos últimos anos de vida, ela não ficou
imune, está com perda de memória recente
e por inúmeras vezes, quando
incendiou a casa, isto somente não
aconteceu porque o seu olfato ainda
resiste, ao contrário da visão, audição
que já se perderam nas brumas do tempo. Mas o INSS, não perdoa, tem que fazer a
“ prova de vida” provar que ainda perambula neste mundo e faz jus aos parcos
recursos pagos pela Instituição.
A sobrinha neta, sempre a atenta a este detalhe, pediu que
eu acompanhasse a tia; para cumprir com a obrigação anual, deixou os documentos e endereço juntos, dentro de uma pasta e lá fomos nós,
para a alegria da octogenária, que manteve firme a ideia de irmos a uma pastelaria famosa no centro da
cidade, a qual ela foi assídua frequentadora
em sua juventude e idade madura. Foi um dia difícil, ela esquecia porque estamos
lá e dezenas de vezes, tive que lembrá-la
a razão de termos saído de casa. A
experiência serviu para chamar a minha atenção para o peso dos anos, e, que o
mais prudente a fazer, é ficar atenta a formação de novos hábitos que
facilitarão, quando a memória faltar, pois quem não fica pelo meio do caminho,
fatalmente, irá enfrentar a perda de
memória recente.
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