Amigas
Mulher que nasce em
família numerosa e passa a infância e
adolescência convivendo somente com
parentes, normalmente tem um sonho simples: Ter amigas! Não conhecidas, aquelas
que ocasionalmente saem para baladas,
disputam sem a menor cerimônias os bonitões disponíveis, pedem dinheiro
emprestado e nunca pagam e, sempre lembra de você quando precisa de um favor.
Fora estas circunstâncias, esquecem o seu contato.
Falo de amiga
verdadeira, aquela que telefona somente
para saber se você está bem, que aparece
de repente em sua casa para conversar
sobre banalidades, dos sonhos futuros e dos passados, que hoje são apenas lembranças doces; diante da impossibilidade de se realizarem e, também,
é claro, reclamar da tia, do irmão, do padrinho, do marido e segue uma lista
infinita. Em família, isto não é possível, vira fofoca e brigas intermináveis, narizes torcidos,
constrangimentos em
festas. Amigas falam, falam, falam, aliviam os corações e a alegria flui naturalmente. Mulheres que conversam entre si
sobre as mazelas da vida, não fazem uso de medicamento de tarja preta
porque estão sempre de alma lavada e o
melhor, sem ferir ninguém, já que o que se fala entre amigas verdadeiras
desaparece no ar sem deixar o vestígios.
Sempre desejei uma
amiga verdadeira que não repetisse as intrigas
dos meus irmos, principalmente do queridinho da mamãe e do protegido do
papai. Passei a infância e adolescência tentando, fui traída por todas e,
muitas vezes, o desfecho não foi bom e os resquícios perduram até hoje. Na impossibilidade de
falar, com os sentimentos reprimidos desenvolvi doenças psicossomáticas o que
levou – me a uma cirurgia das amígdalas. Obviamente que o procedimento
cirúrgico não aliviou a angústia crônica e, na primeira oportunidade fiz
terapia. É verdade, procurei um profissional para falar das pequenas picuinhas,
que acontecem no seio do lar e, dependendo da neurose dos envolvidos, um simples “abaixe o som”, pode terminar em
agressões verbais e até físicas.
Foi ótimo! Minha
saúde física e mental melhorou bastante, mudei para longe da minha família e
pensei: Agora sim, vou fazer novas
amizades, sem fofocas, a começar pelos vizinhos. Ledo engano! Comecei uma
amizade com uma colega de trabalho; tudo parecia estar dentro da normalidade. Eu freqüentava a
casa dela, ela a minha, até que um dia, comprei um tecido que não serviu ao seu fim e, ela gostou dele
e disse que queria comprá-lo, mas não tinha o dinheiro naquele momento, ficou
de pagar os R$20,00 assim que recebesse. Tudo certo, porem, até hoje não recebi e deixei para lá, mas fiquei
cautelosa.
Sendo a minha
natureza “doação” sabendo das suas dificuldades no trabalho, com a carências de
seus pupilos, doei-lhe mais do que o
necessário, tanto que ela veio a minha casa várias vezes e saía sempre com duas
sacolas carregadas, fora o que eu deixa
na sua caixa de correspondência.
Sempre que eu a convidada para sair ela estava disponível, para jantar em minha
casa também, porém, atentei-me para um detalhe, nunca me telefonava ou passava
em minha casa para saber como eu estava, ou simplesmente, bater papo, somente
se precisava de alguma coisa. Em um destes encontrou, tanto falou em um pudim
de leite condensado que ela fez para o pai, tia, madrinha, irmã, sobrinha que senti um desejo enorme, como os de
grávida, de comer o bendito pudim, feito
por ela. Fique sem graça de pedir para fazer um para mim e fui a padaria,
comprei e comi até adoçar a minha alma mas a vontade continuava. Comprei
em doceria, supermercados e nada. Assim, falei com ela e pedi que me
fizesse esse agrado e obtive um sim como
resposta. Os dias foram passando e nada.
Uma nova oportunidade de trabalho surgiu para
ela e eu tinha exatamente o material de que ela precisava. Vi a chance de
saciar a minha vontade da receita de pudim de leite condensado dela.
Falei claramente: Chantagem; Troco o livro que você precisa por um pudim da sua
receita, feito no fogão a lenha, por você. Novamente, um sim foi a resposta,
mas o livro continua em minha estante.
Diante deste
episodio, vejo-me novamente com a mesma reflexão: O quanto vale a minha
amizade? O que uma amiga é capaz de
fazer por mim, para que eu possa considerá-la amiga de verdade? Ainda não tenho as respostas. Tenho apenas a certeza que
continuarei a busca iniciada na infância: Uma amiga sincera!
Outubro 2016
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