Se na primeira crônica falamos do filho como investimento, hoje tratamos do filho como ativo de longo prazo. E como todo bom ativo, ele precisa ser mantido — não educado, não emancipado, mas mantido. Crescer demais pode ser perigoso. Trabalhar, então, é quase um ato de rebeldia.
A nova estratégia é simples: manter o filho em
estado de estudante crônico. Não importa se ele aprende, importa se está
matriculado. Faculdade? Sim, desde que seja aquela que não exige presença.
Curso técnico? Claro, desde que não interfira nos horários de sono. O
importante é o certificado de matrícula, aquele papel mágico que prolonga a
pensão até os 25 anos. É o novo RG da dependência.
A mãe, gestora desse fundo de pensão emocional,
sabe que estimular o filho a trabalhar pode ser um tiro no pé. Afinal, um filho
com salário é um filho com autonomia. E autonomia, nesse contexto, é prejuízo.
Melhor mantê-lo em casa, com Wi-Fi, videogame e um discurso pronto: “Estou
focado nos estudos”. Estudo esse que, curiosamente, nunca termina.
O pai, por sua vez, paga. Paga porque ama, paga
porque a lei manda, paga porque não quer brigar. E o filho, esse eterno
adolescente de barba feita, vive entre a creche emocional e o cofre judicial.
Não precisa trabalhar, não precisa se formar, não precisa sair de casa. Basta existir
— e estar matriculado. O custo da imaturidade planejada
O resultado? Uma geração que chega aos 30 sem saber o que é um contracheque,
sem entender o valor de um esforço, sem ter enfrentado a vida sem rede de
proteção. São adultos com corpo de homem e alma de dependente. E tudo isso em
nome de uma pensão que, ironicamente, deveria ser ponte — e virou prisão.
A reflexão que incomoda
Estamos criando filhos ou dependentes? Educando cidadãos ou cultivando
pensionistas? Porque no fim, o que parece proteção pode ser sabotagem. E o
amor, quando confundido com controle, deixa de ser afeto e vira estratégia.
Boa
leitura e boa digestão. Porque domingo também é dia de encarar verdades que
ninguém quer imprimir.